Wednesday 16 November 2011

Onde você deseja estar? :: Parte 2 ::

Ele sabe que não vai se lembrar do nome daquela música no dia seguinte. Sabe também que isso é o que menos importa agora. O que importa é viver o momento intensamente. E eles dançam. Normalmente, ele estaria analisando seus próprios passos, calculando espaços e pensando naquela que foi seu par por tanto tempo. Mas dessa vez é diferente. Haverá tempo para se culpar novamente. Sempre há tempo para isso. O que ele desejar agora, é sentir aquele corpo junto ao seu.

A sensação de ser tocado o encaminha a pensamentos inesperados. Não se deixava tocar há meses por alguém. Sem apertos de mãos ou simples abraços. Quando em seu quarto, tudo o que desejava era não ser incomodado. Não queria visitas ou batidas em sua porta. O casaco de couro marrom que havia trazido de Toronto, pendurado nesta mesma porta, era seu símbolo de rebeldia contra a Sociedade hipócrita que acreditava o cercar. Estava tão fechado dentro de si mesmo que não percebeu o quanto estava sozinho.

Mas eles continuam dançando. Música após música. Se realmente aquilo poderia ser chamado de música, pensa ele. Mas cumprira seu propósito. Estavam empolgados e desligados dos seus problemas enquanto duraram aqueles momentos. Como curioso acerca da vida e dos comportamentos, ele decidiu observar tudo a sua volta. Se deleitou com o sorriso da loira menina com quem dançava, se divertiu com o olhar de aprovação dos seus conhecidos que, como uma banca julgadora, davam altas notas para a escolha dele naquela noite e se divertiu com o casal dançando ao seu lado, que parecia acreditar estar em uma competição para um programa de domingo na tv.

Ele não sabe quanto tempo se passou. Havia decidido parar de olhar para seu telefone celular. Havia decidido parar de se preocupar tanto. Uma banda estava se preparando no palco para um apresentação. No seu íntimo, fez torcida para que eles pudessem tocar alguma canção mais próxima do seu gosto musical. Ele não poderia estar mais errado. Apesar da agradável companhia, ele não sente desejo mais de dançar. O que ele gostaria mesmo, era de saber o nome dela. Porém, é ela que inicia a conversa: - Você é brasileiro? Ela pergunta. - Sim. Ele responde sorrindo, sentindo um inexplicável prazer ao não ser reconhecido como brasleiro.

- Vamos pegar um pouco de ar fresco lá fora? Ela pergunta com um brilho no olhar.

Ele nota que ela não gostou da mudança no estilo de música, tanto quanto ele. Sem dizer nada aos que o acompanhavam, deixam a área v.i.p. juntos, passando por dentro da pequena multidão que dançava de forma bastante extravagante. Ele confere se ainda está usando a pulseira que o deram na entrada e, junto com ela, passam por dois seguranças na porta que serve de saída do local. Já do lado de fora, ele sente a forte mudança de temperatura e se pergunta por que deixou o casaco sobre uma das poltronas tão confortáveis que ele havia sentado. Ela parece também estar com frio, e como ele, havia esquecido de trazer seu casaco consigo. Brasileiros, ele pensa. Viver alguns anos fora de sua pátria não é o suficiente para fazê-los abandonar certos hábitos.

Vários vasos de plantas decoram a saída do local. Ele se impressiona quando observa a parte externa daquela casa noturna, localizada entre imponentes edifícios quase no centro de Londres. Viver naquela cidade continua sendo uma experiência incrível, mesmo nos momentos em que ele se sente mais infeliz. Súbitamente, ela o puxa pelo braço e o abraça. Ele ouve gritos. Dois homens gritam desafios um para o outro. Uma briga. Um deles é alto, ombros e braços largos, branco e cabelo bem curto. Está visivelmente embriagado. O outro, é quase tão alto quanto ele, negro, bem magro. Não parece uma luta muito justa. Há mais gritos. São de duas mulheres tentando conter aquele que esta bêbado. Apesar da confusão que se iniciou, a briga não acontece. Minutos depois parece que aquela situação simplesmente não existiu.

Eles decidem voltar para dentro da casa noturna para pegarem seus casacos e se despedirem de seus conhecidos. São quase quatro da manhã. Quando finalmente retornam a área v.i.p., eles encontram todos os demais sentados, alguns conversando, outros já estão dormindo naquelas poltronas tão confortáveis. Ele decide fazer o mesmo, e se acomoda em uma delas. Há o que restou de uma torta, provavelmente do aniverário da menina que o convidou, acima de uma das mesas. Não há muito mais o que se fazer no local. Todos decidem, logo depois, chamarem os "cabs" pelo telefone para voltarem para casa. A jovem de cabelos loiros se senta ao lado dele. - Qual é o seu nome? Ele pergunta, sorrindo.

- Nádia. E o seu?

[ Continua... ]

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