Monday 9 July 2012

Sweet Lightness - Part Two

Com muita dificuldade, ele abre seus olhos. Já amanheceu. Símbolos e sentimentos se misturam. Sem certezas ou tão pouco respostas. Apenas mais perguntas e conjecturas. O sol já brilha do lado de fora.

Desanimado, ele se lembra do compromisso. É domingo mas ele precisa ir trabalhar. Seu corpo reclama. Sua mente começa a criar possíveis desculpas e histórias. Ele não quer ir. Mas se veste rapidamente. E vai.

Ele olha para trás. 

Prossegue, mas olhando para trás. Sonhando com o que deixou para trás.

Os dias se repetem. Ele tem trabalhado. Não com o que ama. Mas com aquilo que lhe foi permitido trabalhar. E do seu suor, moradia, alimentação, transporte e deveres são alcançados e pouco a pouco, cumpridos. Ele tenta ao menos, sonhar novamente. Mas seus sonhos são perturbadores. Muito distantes do que no passado, ele chamou de inspiração. A cada manhã, ele se levanta e caminha lentamente até o banheiro. Se olha no espelho e enxerga mais fios brancos. E passa a enxergar de igual modo um sentimento que poucas vezes experimentara: Medo.

Durante seus dias, eventualmente ele observa suas cicatrizes. Ele perdeu as contas de quantas vezes pensou em escrever sobre os cortes, hematomas, dores e feridas que tem colecionado nos seus anos longe de seu país de origem e relacionar os mesmos com a culpa que carrega. Mas ele não tem conseguido. Na verdade, escrever é cada vez mais difícil. Tem lhe sido negado qualquer inspiração para tanto.

Nos últimos meses, ele observa um reflexo do quanto está preso. Sua prisão sem muros. Trabalha para comer. Para se vestir. Quer questionar, mas está cansado. Precisa acordar cedo em cada manhã seguinte. Pensa em dobrar os joelhos, e chorar pedindo perdão a Deus. Mas não sente que possa ser ouvido ou mesmo perdoado. Busca ser diferente, mas percebe que tem estado como tantos outros: Perdido. Se lembra de seu velho amigo no Brasil, Santana. Sobre como ele temia ser como Santana, que havia desistido de lutar e apenas seguia o rumo dos eventos que a vida lhe trazia. Santana trazia lindas e sábias palavras, mas vivia apenas o que lhe davam. Não. Ele não julgaria mais a Santana. Nem a ninguém mais. Somente a si mesmo.












Thursday 21 June 2012

Sweet Lightness - Part One

Ele perdeu as contas de quantas vezes se mudou nos últimos 4 anos, desde que abandonou seu país e sua antiga vida. E, depois de um longo dia de trabalho, ele está em um trem, indo em direção a casa para onde ele se mudou há poucos dias atrás.

O tempo deixa de ser percebido enquanto ele se aprofunda nas questões levantadas pelo autor do livro que está sendo lido por ele. Ele é interrompido e trago de volta a este mundo por uma senhora de avançada idade que se senta ao lado dele no trem. Logo, algo curioso chama a sua atenção: A senhora ao seu lado tira da bolsa de couro vermelha um tablet. E começa também a ler.

Ele olha para si mesmo e percebe o velho livro em suas mãos. Páginas amareladas, capa amassada e abas deixadas para marcar algumas páginas. Do seu lado, a mesma senhora passa delicadamente os dedos pela tela do tablet, em um movimento natural, completamente penetrada em sua leitura. A contradição o leva a sorrir. Velho e novo se misturam naquele trem. Mas a viagem é a mesma e também possui o mesmo destino.

Foram semanas até que uma força maior tomasse o controle e o permitisse expressar uma pequena parte daquilo que o tem atormentado. Ele tem sentido uma necessidade avassaladora de estar só. Talvez ainda haja a necessidade de registrar de alguma forma, parte dos sentimentos que o dominam.

Ele não sente saudades dela. Não que outra pessoa tenha ocupado o espaço deixado há meses atrás. Olhando para trás, ele se regozija no fato de hoje estar completamente só. Nos últimos anos, ele colecionou mais desafetos e perdeu mais amizades do que conquistou. Isso foi motivo de tristeza por alguns dias. Hoje, ele não se importa mais.

"Es muss sein" 

O capítulo lido dias atrás o permite viajar de volta para uma fase vivida por ele há pouco mais de um ano, quando, deixando o peso de suas responsabilidades e deveres, se permite viver um dos seus mais antigos sonhos. Ele não conseguia enxergar qualquer outra opção naquele momento. Estava apaixonado e estava diante de si, a oportunidade que tanto ansiava. "Es muss sein" - It must be!

Ele não se arrepende do que fez, apesar de todas as consequências e feridas que sua decisão proporcionou tanto a si mesmo quanto em pessoas tão estimadas por ele. Simplesmente por que aquilo precisava ser feito! E apenas após ter lido um determinado capítulo de um determinado livro, ele compreendeu isso.

- Continua.

Thursday 24 May 2012

No Calor da Noite

Estou acordado olhando o passar das horas
Me sinto desconfortável com o calor desta noite
O Inverno se foi. Não consigo voltar a dormir
Busco, olhando pela janela, uma visão
Alguma resposta


A silenciosa inquietude da noite
Torna-se minha nova amante
Me recordo neste insuportável instante
Dos amores em chamas
Das lágrimas e dos sorrisos
Como cores quentes em uma mesma pintura


Me lembro das culpas e das mágoas
Das feridas abertas e das tentações sucumbidas
Para, de súbito, tudo desvanecer em trevas


Ao acender de uma tênue luz ao longe
Percebo que permaneço em frente ao mesmo espelho
Para acordar uma segunda vez
Ao lado de uma mulher adormecida que pertence a outro


E me pergunto: Até quando
Permanecerei
Dormindo
...







Sleep - Poets of the Fall


"Hear your heartbeat
Beat a frantic pace
And it's not even seven AM

You're feeling the rush
of anguish settling
You cannot help showing them in.

Hurry up then
Or you'll fall behind and
They will take control of you

And you need to heal
The hurt behind your eyes
Fickle words crowding your mind

So
Sleep, sugar, let your dreams flood in,
Like waves of sweet fire, you're safe within
Sleep, sweetie, let your floods come rushing in,
And carry you over to a new morning

Try as you might
You try to give it up
Seems to be holding on fast

It's hand in your hand
A shadow over your
A beggar for soul in your face

Still it don't matter
If you won't listen
If you won't let them follow you

You just need to heal
Make good all your lies
Move on and don't look behind

Day after day
Fickle visions
Messing with your head
Fickle, vicious
Sleeping in your bed
Messing with your head
Fickle visions
Fickle, vicious"



Wednesday 16 May 2012

Longe Demais


"Alone in the shadows, of a willow tree
I watched from the dark
As you crossed through the park
Coming closer to me
Those brief moments return of the day we first met
The time we shared with that special care
Free from all jealousy
There must be a distant place
Far from every wrong face
Ters won't fall by chance
On this sweet romance..."




Um casal ao telefone faz juras de amor eterno. Logo depois falam sobre algumas fotos comentadas em uma rede social e passam a trocar acusações. Eles choram e ficam em silêncio por alguns momentos até que um deles diz mais uma vez: "Eu te amo". Continuam a chorar um pouco mais e terminam a ligação com mais algumas juras de amor.


Me lembro dos meus dias de apaixonado e percebo que não era muito diferente comigo. Tudo era mágico, especial, único e inesquecível. Até o sofrimento me bater um sem número de vezes na face e me mostrar que a dor não podia mais ser ignorada. E então, de uma forma ou de outra, chegava o tão temido e libertador "fim".


Hoje, assistindo cenas como essas em filmes, livros, músicas e muitas vezes pessoalmente, como testemunha ocular, de casais de amigos meus que vivem e sofrem as desventuras de um relacionamento amoroso, percebo que tudo isso provoca uma tremenda revolta nas minhas entranhas. Sinto um desejo louco de sair de perto e de parar de ouvir tamanha quantidade de merda.


Já estou há mais de oito meses sem me apaixonar por alguém (para alguém que fora tão romantico como eu, uma eternidade, acreditem). Não tenho conseguido chegar nem perto disso. Na verdade, tenho que me controlar para não me aproximar de certas amigas e amigos e dizer: "Acorda! Não percebe o quão ridículo(a) você está se mostrando??" E então... eu me lembro dos meus próprios momentos no passado no papel daquele "cavaleiro de armadura, montado em um alazão branco, e segurando uma rosa vermelha, desafiando o mundo inteiro pelo amor daquela jovem vadia princesa indefesa".


O que me espanta as vezes, é que não foi a primeira decepção amorosa que eu tive. Nem a segunda, terceira, quarta... e de todas elas, eu saía com a esperança e convicção que havia sido apenas a pessoa errada, ou o momento errado ou mesmo o "glauco" errado. E ainda, que havia algo a ser feito para encontrar a felicidade de um doce romance perfeito no futuro. Uhum! Sei... que porra de conto de fadas louco foi esse em que eu passei pelo menos uns 14 anos da minha vida acreditando? Logo eu, alguém que ama ler Kant, Sartre, Hesse, Dostoyevsky, Hemingway e Kerouac... que já possui um tempinho nessa Estrada... que já viveu tantas ilusões e desilusões... levar tantos anos para perceber que os erros no fim, eram apenas os mesmos.


Não estou dizendo que não acredito no amor. Mas esse amor piegas... super influenciado pelas comédias romanticas hollywoodianas e contos de fadas antigos...desses que fazem meus amigos e amigas falarem com voz de criança resfriada, fazendo juras sobre coisas das quais não possuem qualquer tipo de controle, de se negarem a dignidade de serem eles mesmos apenas para evitar "contrariar" o/a amado(a), esse mesmo "amor" só faz rima com dor e dor de cabeça.


Eu sinceramente não sei o que me destina o futuro (uma outra cuspida caprichada para o alto, talvez?) mas sei que hoje, me sinto realmente livre e feliz. Continuaria eu, apreciador de uma boa companhia feminina e de uma longa noite de sexo selvagem? Claro. Mas agora, nada disso se correlaciona com o tipo de amor mencionado e xingado neste texto.



Sunday 6 May 2012

O Inverno de nossos Corações


São aproximadamente 45 minutos de caminhada até o Finsbury Park. Ainda não são sete da manhã e a chuva continua caindo. Se inicia um frio dia de Primavera. As pessoas se apertam umas contra as outras em frente ao ponto de ônibus, embaixo de uma cobertura para escaparem daquela insistente chuva enquanto observam ansiosas, os minutos restantes exibidos em um painel digital para a chegada das respectivas conduções para seus trabalhos.

O que chama a atenção, entretanto, é um casal entre eles. Deitados, envoltos em pelo menos dois antigos "sleeping bags", sobre folhas de jornal e toalhas. Divindo o apertado espaço com as demais pessoas que estão em pé e que parecem ignorar por completo a presença dos mesmos. Imagens como essa não são tão estranhas. Não para pessoas que já viveram no Rio de Janeiro ou em outras grandes cidades espalhadas pelo mundo.

Mas naquela específica manhã de Primavera em Londres, quando pelo menos três camadas de roupas buscam manter cada um aquecido, algo mais pode ser observado naquele casal: Eles estão abraçados. Compartilhando praticamente a única coisa que possuem no momento. A companhia e o calor um do outro. Em contraste com a indiferença que as demais pessoas que estão divindo os mesmos poucos metros quadrados de abrigo contra a chuva com eles. Aquelas pessoas estao todas juntas ao mesmo tempo que parecem estar completamente isoladas em seus próprios castelos.

Os pensamentos voltam para dois dias atrás, quando numa noite tão ou mais fria, passando por uma escura rua próxima a "Charing Cross Station", um outro casal, de idade bem mais avançada e vestindo roupas elegantes, dividem o mesmo espaço com alguns "Homeless" que estavam deitados no chão. Mas o casal parecia bem confortável no meio deles, conversando, sorrindo e distribuindo alimentos. De forma alguma aqueles homens e mulheres de suja aparência e tentando sobreviver a mais uma noite, pareciam lembrar-se de que estavam abandonados a própria sorte. Talvez por que, de fato, não estivessem.

Científicamente, o Frio poderia ser explicado como um processo sensorial produzido pela perda do calor de um corpo ou objeto. Mas também poderia ser definido por aquilo que toma lugar nos corações humanos quando o amor diminui e dá espaço para a vaidade e preocupação excessiva ao "Self".

E tudo em volta parece contribuir para tal esfriamento. O Sistema, as pessoas e seus relacionamentos, seus sonhos e projetos. Nada mais é em observação as reais necessidades dos demais semelhantes. Quase todos querem ser lembrados, buscados e cuidados. Mas realmente muito poucos realmente lembram, buscam e cuidam.

"But the little sticky leaves, and the precious tombs, and the blue sky, and the woman you love! How will you live, how will you love them?" Alyosha cried sorrowfully. "With such a hell in your heart and your head, how can you? No, that's just what you are going away for, to join them... if not, you will kill yourself, you can't endure it!"

"There is a strength to endure everything," Ivan said with a cold smile.
-Fyodor M. Dostoevsky, The Karamazov Brothers.

Talvez a grande maioria das pessoas estejam vivendo uma Estação diferente. Um Inverno prolongado em seus corações.

Friday 6 April 2012

Um Coração na Estrada

Lua cheia. Uma fria noite de primavera. Do lado do esquecido jardim, onde antigas estátuas observam a beleza do canal que desce ao longo da propriedade, um timbre agudo e estridente é ouvido. Um vaso quebrado se coloca no caminho até a pequena lagoa. Dois leões segurando escudos observam seu caminhar. Nas sombras, uma pronação aumenta o timbre. As árvores e as nuvens cobrem a lua. E então, uma supinação. O timbre é diminuido e uma respiração é presa. A música segue. Ele volta para a sala. Fecha as portas, fugindo do frio e da escuridão. Fica a pensar do que mais ele estaria fugindo. Seria da dor? Do passado? Bach. Magnífico. Se sente confortável agora. Talvez ele possa responder algumas cartas. Talvez ele possa dar seguimento ao seu livro. Mas a música, a lua e o vinho, o arrebatam daquele lugar. Sem resistir, ele se entrega. Seu coração já conhece o caminho.

Fiquei pensando durante quase toda semana em algo que algumas amigas minhas me disseram no final de semana passado, enquanto nos divertíamos pelas noites de Londres. Principalmente por que, em outras ocasiões, outras pessoas também muito queridas comentaram sobre o mesmo assunto: Minha suposta aversão pelo Brasil.

Não é um assunto simples para mim. Não se trata, tão pouco, de fazer pouco caso de tudo quanto vivi no meu país e deixei para trás. O que para mim se mostra interessante, é o fato de que, por não desejar compartilhar com a maioria, os reais motivos, eu tenho dado desculpas que não correpondem exatamente com a realidade. Sim, eu tenho mentido.

Não se trata de dinheiro. Eu não era rico e nem tinha uma carreira, é bem verdade. Mas eu vivi muitas diferentes fases. Vivi no muito e no pouco. Tive alguns empregos interessantes, outros nem tanto. E sempre tive muitos amigos. As mais loucas atividades e diversão nunca me faltaram enquanto estive no meu país.

Não se trata de visão política ou social. Por mais que eu tenha pesadas críticas sobre tudo que acontece de podre, e posso dizer isso sem medo de errar, pois trabalhei na política do meu Estado, não foi esse o motivo. Nem o fato de eu sentir uma forte repulsa a falta de educação e certas manifestações culturais típicas de onde eu vivi.

Qual seria então, o motivo de estar tão feliz, mesmo longe das pessoas que mais amei? Mesmo longe de onde minha inteligência e cultura eram muito mais reconhecidas? Por que eu não consigo sentir o menor desejo de retornar?

Vou ser sincero: Desde antes da morte do meu pai, quando eu tinha dezessete anos de vida, eu sonhava em ser livre. De conhecer uma liberdade que ninguém havia me apresentado ou falado sobre, mas que havia nascido no meu coração antes mesmo de eu me apaixonar por uma menina pela primeira vez. Eu sonhava em não ter uma família, em não pertencer a nenhum grupo específico da escola e, principalmente, em não fazer o mesmo percurso das demais pessoas que vieram antes de mim.

Após a perda do meu pai, eu fiquei em choque. Senti um desejo imenso de ser pai e de possuir uma família. Mas a origem disso me é bem clara hoje: Eu me sentia culpado por não ter sido um bom filho. O filho que meu pai havia sempre sonhado. Uma cópia melhorada dele mesmo. E esse desejo me seguiu por muitos anos. E esse mesmo desejo lutou ferozmente por mais de uma década contra minha natureza. Até que, em algum momento, na maior e mais completa sinceridade comigo mesmo, eu percebi que caminho eu deveria tomar. Era chegado o momento de não mais negar a mim mesmo quem eu era.

Eu realmente acreditei e compartilhei, inclusive com pessoas próximas ou não, que aquele desejo de possuir uma família era meu maior sonho.

Hoje, não.

A vida me revela de forma honesta, no presente momento, que claramente só há um sonho dentro de mim: Ser e continuar livre! Somente há poucos anos atrás, desde que abandonei meu país, família e amigos, eu alcancei essa verdade. Eu amo não saber o que vai acontecer comigo. Não possuir a menor idéia de como ou onde eu estarei vivendo nos próximos meses ou anos. Desconhecer as pessoas que vão entrar ou vão sair da minha vida. De viver uma página em branco, praticamente todos os próximos anos de minha existência.

Hoje, sim. Hoje eu vivo o meu maior sonho. Apenas o primeiro passo na minha Estrada.