Sunday 18 September 2011

Não Resista

Não vou escrever hoje sobre filosofias de vida, pensamentos ou sobre Londres. Certo, provavelmente vem algo bastante tedioso de ser lido pela frente mas gostaria mesmo de escrever sobre meu coração.

Definição: 
Fig. Caráter, índole; conjunto das faculdades emocionais; sede da afetividade: tem um bom coração.


Se há algo que eu gostaria muito que mudasse na minha pessoa, sem dúvida que seria o meu coração. Não sei onde se iniciou essa característica na minha pessoa, mas sempre atendi mais aos apelos do meu coração do que da minha razão. E isso sempre me trouxe consequências complexas. Nos momentos de me relacionar, de tomar decisões e celebrar conquistas e lamentar derrotas. Sempre fui dramático.


Interessante que mesmo o fato de estudar tanto sobre o comportamento humano e ser um ávido observador do mesmo, apenas em certos momentos de específicas fases da minha vida, consegui controlar esse impulso de lançar nas mãos do coração, o domínio sobre minha vida. 


Sei também que, por muito ouvir o coração, meu caráter se desvirtuou. Não me considero uma pessoa de caráter excelente. Pelo contrário. Tenho refletido e encontrado uma pessoa cínica e flexível demais. O oposto do que eu realmente gostaria de ser. Não, nem sempre fui assim. Houve momentos da minha vida, onde meu caráter estava sendo moldado e meu coração estava completamente inclinado para uma boa índole. Mas isso durou apenas até eu decidir alimentar minhas paixões de forma desenfreada e não pesar apropriadamente as consequências de seguir este caminho.


Quando eu deixei o Brasil para trás, ao que me parece hoje, vejo que também ficaram para trás os elementos que trouxeram meu sonho de viver fora do País. Desde então eu comecei a mudar. 


Até hoje. Depois de tantas experiências, alegrias, paixões, aventuras, perigos e lágrimas, eu cheguei a conclusão de que preciso mudar. Não para o que eu era antes. Para algo melhor. E eu sei que mudanças assim não são realizadas da noite para o dia. Mas o processo de transformação tem data sim, para começar. E o meu se inicia hoje.

Keep your heart with all diligence,
For out of it spring the issues of life
- Pr 4:23

Saturday 17 September 2011

Words are Wind

Certas vezes, um sentimento de solidão e despreparo se revela tão forte que fica impossível não se questionar sobre o caminho que temos seguido nesta vida. E os pensamentos nos levam para bem longe.

Eu acordei tarde hoje para ir trabalhar. Não peguei nada na geladeira para comer, mas me lembrei de pegar um livro para poder ler algo durante meu caminho para o trabalho. Interessante notar quantas pessoas dentro do "Underground" de Londres estão sempre com um livro em mãos para tornar a viagem mais agradável.

Meu trabalho fica há apenas cinco paradas, entre a "Oval Station" e a "London Bridge Station". Logo, não foram muitas, as páginas lidas durante o trajeto. Mas houve algo que me chamou a atenção:

"...How can I be a King's Hand? I belong on the desk of a ship, not in a castle tower."
"You are notable, Captain." The Maester replied. "A Captain rules his ship, does he not? He must navigate treacherous waters, set his sails to catch the rising wind, know when a storm is coming and how best to weather it. This is much the same. Words are wind".

Quantas vezes buscamos encontrar desculpas para o desgoverno de nossas vidas? Na verdade, eu não acredito em ocaso ou coincidência. Tudo possuí um propósito abaixo dos céus. E certamente que muitas das  situações que passamos, nos deixam lições importantes que deveriam ser usadas para não perdermos o controle de nossas vidas. Nem sempre conseguimos compreender a mensagem. Mas ela está lá.

Muitas vezes queremos mudar algo em nossas vidas e ficamos esperando uma "mudança na direção dos ventos". E esquecemos que muitos são os fatores que governam a direção de um "navio". Muitas das vezes a resposta já se encontra diante de nós. Mas não queremos aceitá-la ou nos darmos o trabalho de usar aquilo que já possuímos em mãos para mudar nossa "sorte".

Fui afligido muitas vezes por esse erro tão comum de procurar o que estava de errado no lugar errado. De culpar-me pelo o que me faltava ao invés de aprender a usar tudo aquilo que minha família, amigos, Deus e a vida colocaram no meu caminho para progredir e contornar os obstáculos dos tempos de mar bravio.

Mas a maré está mudando... e eu também estou...

Estou aproveitando os bons ventos que sopram no momento. Ventos que estão soprando para longe as dúvidas, tristezas e angústias. E com as palavras, tenho feito planos, conversado com pessoas tão queridas, me dedicado aos estudos e desabafado com Deus. E tudo isso tem dirigido minha vida nas últimas duas semanas. Me sinto muito mais confiante de estar na rota certa!

E o meu destino? Meus sonhos se tornando realidade.


Tuesday 13 September 2011

Um Novo Começo

Não posso desistir. A mesma força que me permite levantar todas as manhãs para ir trabalhar, estudar, treinar e esperar por melhores dias, diz também que tudo possui um propósito. Até mesmo o que de pior nos acontece.


Minhas aulas no Lewisham College iniciaram hoje. Pode parecer pouco, mas é uma pequena doce vitória que coleciono. E a cada dia que consigo falar com minha mãe e com outras pessoas muito especiais que ainda permanecem no Brasil (espero eu, que por pouco tempo), me sinto mais forte, mais capacitado para enfrentar a realidade de quem vive fora do seu país de origem.


Até por que, estou aqui por conta dos meus objetivos. Eu estou aprendendo a cada dia o que eu realmente quero da minha vida. E estou amando essa fase.


Achei um outro texto que fala muito ao meu coração e que eu gostaria de compartilhar:



Fazem pouco mais de vinte anos que Raul Seixas, o Maluco Beleza, deixou o convívio terreno e partiu para outra dimensão (ele se foi em 21.08.1989). Dentre as inúmeras músicas interpretadas pelo célebre Raul, uma delas continua recorrente na sociedade atual. “Tente outra vez” diz respeito aos fortes de espírito, aqueles não se deixam vencer pelas adversidades ao longo do caminho. Deveria ser o hino dos que ainda crêem na esperança de encontrar a sua própria voz, ou seja, a sua própria vocação.
A sociedade em que vivemos é uma sociedade voltada para o trabalho, portanto, é difícil escapar ao fato de que somos incentivados a trabalhar duro para conseguir o que queremos. Desde pequenos ouvimos dizer que bens materiais, reconhecimento, valorização e sucesso custam caro. Em geral, somos levados a imaginar que fama e fortuna estão disponíveis somente para aqueles que trabalham mais e chegamos ao ponto de acreditar que uma vida modesta, desprendida de esforço, nos impedirá de conseguir o que desejamos.
Infelizmente, não é possível corrigir os erros do passado, mas deve-se aprender com eles. Quando crianças, nossa imaginação voava longe, queríamos ser de tudo, inventores, guerreiros, super-heróis, atores, bailarinos, professores, músicos e assim por diante, mas alguém enfiou em nossa cabeça que o melhor é ser advogado, médico, engenheiro, empresário etc., ou seja, profissões supostamente bem remuneradas, seguras e tranquilas no futuro.
De fato, muitas pessoas foram banidas para sempre da sua verdadeira vocação e o resultado foi a frustração ocasionada pela formação de milhares de profissionais medíocres que acabam fazendo de tudo, menos aquilo para o qual nasceram. Com o tempo você aprende a se conformar com a situação e, por mais que você queira chutar o balde, a mente acaba martelando coisas como “você não pode”, “não seja louco”, “agora é tarde”, “pense nos filhos”, “pare de sonhar” e outras aberrações semelhantes.
Por conta de tudo isso, de acordo com George Leonard, autor do livro Maestria: As Chaves do Sucesso e da Realização Pessoal, “O mundo moderno, com efeito, pode ser visto como uma prodigiosa conspiração contra a maestria. Somos continuamente bombardeados com promessas de satisfação imediata, sucesso instantâneo e alívio rápido e temporário, que nos levam exatamente na direção errada.”
Somos reféns dos pensamentos alheios e isso nunca há de nos levar a lugar algum, portanto, aprender é mudar, tentar, cair e levantar quantas vezes for necessário, e nunca perder de vista o sonho. O aprendizado é muito mais do que aprender nos livros. Como diz Leonard, “a aprendizagem durante a vida toda é um privilégio especial dos que percorrem o caminho da maestria, o caminho que nunca termina.”
A única voz que você deve ouvir é a voz do seu coração. Se as crianças desistissem a cada “não” que recebem, o mundo seria um desastre. Portanto, não importa a área com a qual você se identifique, desperte a criança que existe dentro de você. De vez em quando pare de trabalhar e tente obedecer aquela voz interior que martela repetidamente o seu subconsciente para uma completa mudança de direção. Por fim, como diria o grande filósofo Raul Seixas: “Veja, não diga que a canção está perdida, tenha fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez! Tente, e não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida, tente outra vez. Pense nisso e seja feliz!

Tolos

Hoje foi um dia muito interessante. Mesmo com os pensamentos oscilando entre a dúvida e os anseios por novos sonhos, houveram momentos de imparcial reflexão. Sobre as perguntas que todos os grandes pensadores buscaram encontrar: Qual seria o propósito da vida?

Não é com a intenção de revelar tal aguardada resposta que venho até aqui hoje. Mas com a mesma força que os ventos sopraram nesta noite aqui em Londres, eu alcancei uma certeza: Não estamos aqui para sermos tolos.

E conversando com alguém muito especial, decidi procurar um texto que li há muitos anos e que expressa muitíssimo bem uma opinião que temos em comum. Infelizmente desconheço o autor do texto.

Tolos

Se você conhece algum, você vai entender perfeitamente a razão pela qual considero o caminho da persuasão lógica e racional um caminho contraproducente no diálogo com o tolo (se é que é possível tal diálogo!). A razão é bem simples: o tolo é, por natureza, completamente satisfeito consigo mesmo. Ou seja, ele está tão embriagado de si mesmo que a única coisa que ele consegue aceitar, no diálogo com o outro, é ele próprio e suas ideias. Nada mais lhe interessa senão confirmar ou reafirmar suas teses. Ele não consegue olhar para o outro, esforçando-se por compreendê-lo. E essa incapacidade decorre do fato de que ele foi sociológico-psicologicamente sugestionado a acreditar em si mesmo e em suas ideias sem ter que, ao mesmo tempo, refletir criticamente sobre si mesmo e suas ideias. Em outras palavras, o tolo é aquele que foi ensinado por “autoridades inquestionáveis” a absorver inúmeros pressupostos, muitos deles plausíveis e verdadeiros, porém sem questioná-los, sem pensá-los.


Que não se entenda a tolice dos tolos como uma patologia da qual os hábeis intelectuais estão imunes! Dizer que a tolice faz parte apenas da natureza daqueles que não alcançaram o paroxismo da inteligência humana é um erro crasso que apenas os tolos cometem. É indubitável que a tolice não é, por natureza, um defeito intelectual, mas um defeito humano. Por exemplo, existem pessoas que são intelectualmente ligeiras, sacam as coisas com rapidez, mas são tolas (basta lembrar do filósofo alemão Martin Heidegger, que possuía uma notável habilidade lógico-filosófica, mas que, em um determinado momento de sua vida, defendeu os ideais nazistas). Em contrapartida, existem pessoas que são muito lentas quando pensam, mas são tudo menos tolas (Lutero, por exemplo, vivia reclamando pelos cantos da Universidade de Erfurt, na Alemanha, de que ele jamais poderia ser um teólogo de verdade porque se considerava lento demais para o raciocínio lógico; e, diga-se de passagem, muitos seguidores de Philipp Melanchthon concordariam com Lutero!).

Entender que a tolice é um defeito humano é sacar que todas as pessoas são, por natureza, tolas. Portanto, pessoas não se tornam tolas, elas no máximo deixam de ser tolas. E como elas deixam de ser tolas? Dietrich Bonhoeffer, quando estava preso por causa da perseguição nazista, escreveu inúmeras cartas. Numa delas, ele disse que “somente um ato de libertação poderia vencer a tolice; um ato de instrução ou argumentação lógica nada pode fazer para convencer o tolo de sua tolice. Antes de tudo, o tolo precisa de uma libertação interior autêntica, e enquanto isso não ocorre temos de desistir de todas as tentativas de persuadi-lo”.

Essa necessidade de “libertação interior autêntica”, enfatizada por Bonhoeffer, também pode ser encontrada entre os primeiros filósofos gregos. No livro VII da República, Platão mostra Sócrates “ensinando” para o jovem Glauco que para as pessoas conhecerem a verdade elas precisam ser primeiramente libertas. Para isso, o filósofo contou uma história sobre seres humanos que, desde o seu nascimento, estão aprisionados em uma caverna subterrânea. Eles não sabem o que é o mundo fora da caverna. Suas pernas e seu pescoço estão algemados de tal sorte que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas em direção a uma parede. Atrás deles, na entrada da caverna, há um foco de luz que ilumina todo o ambiente. Entre esse foco de luz e os prisioneiros, há uma subida ao longo da qual foi erguido um pequeno muro. Para além desse pequeno muro, encontram-se homens que transportam estátuas que ultrapassam a altura do pequeno muro. Eles carregam estátuas de todos os tipos: de seres humanos, de animais e de toda sorte de objetos. Por causa do foco de luz e da posição que ele ocupava, os prisioneiros são capazes de enxergar, na parede do fundo, as sombras dessas estátuas, mas sem verem as próprias estátuas, nem os homens que as transportam. Como nunca viram outra coisa além das sombras, os prisioneiros pensam que elas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que as sombras não passam de projeções das coisas, nem podem saber que as coisas projetadas são, na verdade, estátuas carregadas por outros seres humanos.



O que aconteceria, pergunta Sócrates a Glauco, se alguém libertasse os prisioneiros? O que faria um prisioneiro liberto daquelas algemas? Sem dúvida, olharia toda a caverna. Ao seu redor, veria os outros prisioneiros, o pequeno muro às suas costas, as estátuas e a entrada da caverna. Seu corpo doeria a cada passo dado. Afinal de contas, ele ficou imóvel durante muitos anos. Não bastassem as dores do corpo, ao se dirigir à entrada da caverna ficaria momentaneamente cego, pois aquele foco de luz que clareava a caverna, na verdade, era o sol. Porém, com o passar do tempo, já acostumado com a claridade, seria capaz de ver não só as estátuas, mas também os homens que as carregavam. Prosseguindo em seu caminho, passaria a enxergar as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não contemplara senão sombras das estátuas projetadas no fundo da caverna.

Na condição de conhecedor desse “novo” mundo, o prisioneiro liberto regressaria ao velho mundo subterrâneo. Ao chegar, ele contaria aos outros prisioneiros, ainda algemados, o que viu. Sua missão seria libertá-los, pois é somente na condição de livre que alguém pode ser capaz de contemplar o mundo das coisas tais como elas são. O que mais poderia acontecer após esse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras, pois o único mundo real é o mundo da caverna. Por isso, tentariam silenciá-lo de todas as formas. No entanto, se ele teimasse em afirmar o que viu e insistisse em convidá-los a sair da caverna, os homens das sombras o matariam. Foi assim que Sócrates concluiu o mito da caverna.

Os tolos são aqueles que tomam as sombras como se fossem as coisas mesmas. O homem-que-deixou-de-ser-tolo, porém, é aquele que não se satisfaz com as imagens projetadas no fundo da caverna, mas impulsionado pelo desejo de contemplar as coisas mesmas, arrebenta os grilhões que o aprisionam. Ao se libertar, dirige-se ao mundo verdadeiro. E quando o mundo verdadeiro se abre para ele, ou seja, no momento em que ocorre a revelação da verdade (alethéia), o homem-que-deixou-de-ser-tolo se compraz apenas em perceber sua própria tolice. Esse é o ponto. O tolo, por natureza, não sabe que é tolo, não tem consciência de sua tolice. Ele toma as sombras como se fossem as coisas mesmas. Por isso, a única maneira de um tolo se livrar de sua tolice é descobrir que ele é tolo. Mas veja, esse é o ponto de partida não o de chegada. Depois da consciência da tolice, é preciso deixar de ser tolo!

Enquanto o tolo não enxerga a sua tolice não adianta argumentar. Não adianta tentar persuadir aquele que está completamente preso em si mesmo. E por que? Porque onde há oprimidos há um opressor. Há um opressor dentro do tolo. Na conversa com ele percebe-se que não é com ele mesmo que se está tratando, mas com chavões, clichês, palavras de ordem, argumentos ad hominem, que operam nele e tomam conta de sua mente. O tolo, como diz Bonhoeffer, “está fascinado, obcecado, foi maltratado e abusado em seu próprio ser. Tendo-se tornado, assim, um instrumento sem vontade própria”.

Enfim, minha ojeriza pela tolice não deveria ser entendida como mero ódio ao tolo, mas, sim, como ódio ao poder que inevitavelmente precisa e se nutre da tolice humana."

“Hey! Teacher! Leave them kids alone!”

Monday 12 September 2011

Esperança

Por tantos, tão desprezada. Sinal de fraqueza e superstição. Tolice. Vã necessidade de crer que no final, tudo irá bem, ou algo positivo se sobressairá.

A razão não é desmerecer a esperança. Nem contestá-la. Não merece julgamento, àqueles que se apegam como náufragos, ao conceito ou objeto de esperança.

Não seria possível imaginar um mundo sem esperança. A busca de tantos por melhoras, por transformação, por descobertas que possam trazer paz, saúde, bem-estar e vida. Vitória sobre as aflições que castigam o ser humano desde o momento em que o mesmo é expulso do ventre materno.

Pela esperança, tanto se foi conquistado. E mesmo aqueles que se desiludiram, no fundo do seu ser, ainda aguardam por alguma mudança. Não. O ser humano, enquanto vivo, é um ser esperançoso. E quando deixa de ser, decide partir deste mundo pelas próprias mãos, de uma forma ou de outra.

A esperança é exatamente aquilo que te permite levantar da cama, mesmo quando sua razão ou coração falham em mostrar qualquer motivo razoável para fazê-lo.



Paz. É o que todo coração busca, mesmo sem saber o que está procurando. É silêncio, tranquilidade e certeza. É prêmio almejado mas quase sempre desconhecido. Motivo pelo qual nos preparamos, combatemos e muitas vezes perdemos, quando tentamos achá-la nos lugares errados.

Meu coração está em Paz. A verdadeira guerra se dá sempre no interior do coração de cada um de nós. E lá, eu a venci. Ao menos por hora, já que tal confronto é sempre diário. Constante.

Muitas vezes gosto de me imaginar em um lugar selvagem, distante de todos. Mas não é o que eu preciso agora para minha vida. Não quero e nem vou fugir. Vou pagar sim, o preço pelas decisões e atitudes que tenho tomado. Mas nem por isso deixarei de plantar hoje, as necessárias boas sementes.

Por que, se enganam aqueles que esquecem do que fizeram. Todos podem ser perdoados e podem perdoar, mas as conseqüências de cada atitude que tomamos não deixará de influênciar nossas vidas. Por isso, deveríamos nos permitir sempre recordar do preço que pagaremos por cada uma delas.

Friday 9 September 2011

A Liberdade já não é tão Triste

Voltei a escrever num momento bastante delicado da minha vida. Eu realmente imaginei que seria apenas mais uma forma de fuga da realidade opressora que eu pensei estar vivendo. Mas não. Eu me enganei. Opressora era a minha realidade antes da decisão que fora tomada. Hoje me sinto livre, feliz. Minha vida é como um livro, e o futuro são no momento, páginas em branco. Estou pronto para escrever. Estou ansioso para escrever nas mesmas, uma história diferente.

Quão maravilhosa é a morte de uma história! Pois nada mais significa do que o nascimento de uma outra!

Há alguns livros que nos marcam de diversos modos. Quando lidos numa determinada época, absorvermos de uma certa maneira, certas vezes, completamente diferente de quando relidos em um outro momento de nossas vidas. Foi assim nas vezes em que li "O Pequeno Príncipe" do Antoine de Saint-Exupéry e o "Siddhartha"do Herman Hesse. Este último, bastante comentado nas últimas semanas com várias pessoas muito queridas.

Sobre "Siddhartha", eu poderia passar horas falando. Principalmente sobre as implicações do "Samsara" sobre nossas vidas. Mas vou me limitar a dizer sobre, que se não aprendermos com os erros que cometemos, estaremos irremediávelmente condenados a simplesmente repeti-los. Não importa o quanto tenhamos sofrido num primeiro momento.

Não. Não estou sofrendo. E estou impressionado.
Mas nâo desejo ser arrogante como outrora. Vejamos o que será escrito no livro da vida.

Enquanto isso, quero escrever mais.

Tuesday 6 September 2011

Endless Sea

Umas das poucas certezas que tenho na vida é de que um homem, para ser realmente feliz, deveria trabalhar fazendo aquilo que ama. Eu não amo meu emprego, mas sou grato a Deus por tê-lo. Em Londres, o custo de vida é relativamente alto e se torna essencial conseguir um bom emprego para sobreviver aqui. Muitos brasileiros, por não possuírem documentos que os habilitem a trabalhar legalmente, são obrigados a enfrentar empregos como "cleaners", "kitchen porters" ou "labourers". Isso por que muitas das agências que contratam esses brasileiros, não solicitam os "permits" de trabalho. O trabalho é duro, mas os mesmos recebem seus pagamentos sem os terríveis descontos do governo.

Apesar de eu possuir o "permit" de trabalho por ser cidadão italiano e a certidão de permanência no Reino Unido, ainda não faço o que amo. Para tanto, há muito trabalho e planejamento pela frente.

Durante as intermináveis horas de trabalho que enfrentei hoje, me permiti ir até uma das grandes janelas do edifício onde minha companhia atualmente presta serviço, para observar o Rio Thames. Me lembrei de duas épocas distintas da minha vida no Brasil: Quando eu trabalhei numa operadora de mergulho em Búzios, Litoral Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, e de quando fui sócio numa pequena transportadora marítima em Niterói. Foram atividades das quais eu não encontrei prazer algum mas que, de alguma forma, eu vejo hoje que poderiam ter sido muito agradáveis.

Ainda olhando para o Thames, me lembrei de um livro maravilhoso escrito por Amyr Klink chamado Endless Sea e de uma citação no mesmo que eu realmente amo.

"A man needs to travel. By his means, not by stories, images, books or TV. By his own, with his eyes and feet, to understand what is his. For some day planting his own trees and giving them some value. To know the cold for enjoying the heat. To feel the distance and lack of shelter for being well under his own roof. A man needs to travel to places he doesn't know for breaking this arrogance that causes us to see the world as we imagine it, and not simply as it is or may be. That makes us teachers and doctors of what we have never seen, when we should just be learners, and simply go see it."


- Amyr Klink (Brazilian sailor and writer)

Sunday 4 September 2011

Finalmente

Escrever sempre foi uma paixão para mim. Quando criança, eu me sentia como um prisioneiro. Meus pais eram um tanto protetores e eu nunca tive muitos amigos com quem brincar. Meu mundo era o meu quarto e meus brinquedos. Meu pai estava sempre ausente, trabalhando e viajando. Minha mãe, sempre ocupada com os deveres do lar e sua devoção religiosa. Morávamos no Rio de Janeiro, numa enorme casa localizada em um bairro residencial na capital do Estado. Sem empregadas, sem parentes ou amigos a nos visitar regularmente.

Talvez isso explique meu desejo desde pequeno de ver o mundo lá fora. De conhecer pessoas e lugares distantes. Cresci vendo filmes e lendo livros. Inspirado pelos mesmos, havia todo um universo imaginário criado por mim e para mim para que eu pudesse tentar calar a solidão e curiosidade que eu tanto sentia. Mas tudo isso não fazia diminuir meu desejo de um dia me sentir realmente livre.

Anos se passaram. Meu pai decidiu se mudar para uma cidade do interior do Rio de Janeiro em busca de uma vida menos agitada e onde ele pudesse passar mais tempo com sua família. Na verdade, ele havia descoberto sobre sua doença e queria passar seus últimos anos tentando consertar o estrago que sua ausência havia proporcionado. Definitivamente cinco anos não foram o suficiente para fazê-lo. Eu me sentia diferente dos meus colegas de escola, era extremamente tímido e preferia a leitura de histórias em quadrinhos e jogos eletrônicos à companhia das outras pessoas. Minha mãe também havia se fechado ainda mais, apenas se dedicando aos cultos e atividades de sua igreja. Minha irmã, um pouco mais nova do que eu, não parecia passar por problemas de timidez e isolamento tão severos quanto os meus. Ela era a melhor aluna da classe, rodeada de amigos e amigas e envolvida em diversas atividades escolares. Mas mesmo ela, quando em casa, passava horas e horas trancada em seu quarto, ouvindo rock'n roll e conversando com as amigas no telefone.

Não sei ao certo onde tudo começou. Sei apenas que após a morte do meu pai, aos meus 17 anos de idade, meu mundo desabou. Na verdade, as muralhas que me impediam de sair e finalmente ver o mundo, desabaram. E desde então, pouco tenho me privado de experimentar a vida. Minha mãe tentou, em vão, me segurar naquela prisão que até então era o meu mundo. E a cada ano que se passava,
o conceito de lar se tornava mais e mais abstrato.

Hoje, aos 33 anos de idade, continuo buscando saciar minha sede por novas descobertas, pessoas e lugares. Estou vivendo há quase dois anos em Londres, Reino Unido. Agora pretendo compartilhar um pouco das minhas experiências e pensamentos através deste blog. E apesar de não ser mais tão tímido quanto eu era há 16 anos atrás, penso que os textos que escrevo são a melhor forma que possuo de me expressar. Algo que eu amava fazer regularmente e que eu jamais deveria ter deixado de fazer.

Better later than never...

Finalmente estou de volta.