Sunday 4 September 2011

Finalmente

Escrever sempre foi uma paixão para mim. Quando criança, eu me sentia como um prisioneiro. Meus pais eram um tanto protetores e eu nunca tive muitos amigos com quem brincar. Meu mundo era o meu quarto e meus brinquedos. Meu pai estava sempre ausente, trabalhando e viajando. Minha mãe, sempre ocupada com os deveres do lar e sua devoção religiosa. Morávamos no Rio de Janeiro, numa enorme casa localizada em um bairro residencial na capital do Estado. Sem empregadas, sem parentes ou amigos a nos visitar regularmente.

Talvez isso explique meu desejo desde pequeno de ver o mundo lá fora. De conhecer pessoas e lugares distantes. Cresci vendo filmes e lendo livros. Inspirado pelos mesmos, havia todo um universo imaginário criado por mim e para mim para que eu pudesse tentar calar a solidão e curiosidade que eu tanto sentia. Mas tudo isso não fazia diminuir meu desejo de um dia me sentir realmente livre.

Anos se passaram. Meu pai decidiu se mudar para uma cidade do interior do Rio de Janeiro em busca de uma vida menos agitada e onde ele pudesse passar mais tempo com sua família. Na verdade, ele havia descoberto sobre sua doença e queria passar seus últimos anos tentando consertar o estrago que sua ausência havia proporcionado. Definitivamente cinco anos não foram o suficiente para fazê-lo. Eu me sentia diferente dos meus colegas de escola, era extremamente tímido e preferia a leitura de histórias em quadrinhos e jogos eletrônicos à companhia das outras pessoas. Minha mãe também havia se fechado ainda mais, apenas se dedicando aos cultos e atividades de sua igreja. Minha irmã, um pouco mais nova do que eu, não parecia passar por problemas de timidez e isolamento tão severos quanto os meus. Ela era a melhor aluna da classe, rodeada de amigos e amigas e envolvida em diversas atividades escolares. Mas mesmo ela, quando em casa, passava horas e horas trancada em seu quarto, ouvindo rock'n roll e conversando com as amigas no telefone.

Não sei ao certo onde tudo começou. Sei apenas que após a morte do meu pai, aos meus 17 anos de idade, meu mundo desabou. Na verdade, as muralhas que me impediam de sair e finalmente ver o mundo, desabaram. E desde então, pouco tenho me privado de experimentar a vida. Minha mãe tentou, em vão, me segurar naquela prisão que até então era o meu mundo. E a cada ano que se passava,
o conceito de lar se tornava mais e mais abstrato.

Hoje, aos 33 anos de idade, continuo buscando saciar minha sede por novas descobertas, pessoas e lugares. Estou vivendo há quase dois anos em Londres, Reino Unido. Agora pretendo compartilhar um pouco das minhas experiências e pensamentos através deste blog. E apesar de não ser mais tão tímido quanto eu era há 16 anos atrás, penso que os textos que escrevo são a melhor forma que possuo de me expressar. Algo que eu amava fazer regularmente e que eu jamais deveria ter deixado de fazer.

Better later than never...

Finalmente estou de volta.

3 comments:

  1. Impressionante como estamos vivendo coisas muito distintas, mas ao mesmo tempo similares!!! Acho que sao os trintas rs! Abraços e vamos que vamos! Muito bom poder acompanha-lo aqui, brother!

    ReplyDelete
  2. Ler vc é sempre um prazer indiscutível.
    Uma pena que a impulsividade nos fez deletar os "blogs" que outrora nos ajudaram muito a conhecer esse mundo.
    Estou na torcida, sempre.
    Grande beijo.

    ReplyDelete