Thursday 24 May 2012

No Calor da Noite

Estou acordado olhando o passar das horas
Me sinto desconfortável com o calor desta noite
O Inverno se foi. Não consigo voltar a dormir
Busco, olhando pela janela, uma visão
Alguma resposta


A silenciosa inquietude da noite
Torna-se minha nova amante
Me recordo neste insuportável instante
Dos amores em chamas
Das lágrimas e dos sorrisos
Como cores quentes em uma mesma pintura


Me lembro das culpas e das mágoas
Das feridas abertas e das tentações sucumbidas
Para, de súbito, tudo desvanecer em trevas


Ao acender de uma tênue luz ao longe
Percebo que permaneço em frente ao mesmo espelho
Para acordar uma segunda vez
Ao lado de uma mulher adormecida que pertence a outro


E me pergunto: Até quando
Permanecerei
Dormindo
...







Sleep - Poets of the Fall


"Hear your heartbeat
Beat a frantic pace
And it's not even seven AM

You're feeling the rush
of anguish settling
You cannot help showing them in.

Hurry up then
Or you'll fall behind and
They will take control of you

And you need to heal
The hurt behind your eyes
Fickle words crowding your mind

So
Sleep, sugar, let your dreams flood in,
Like waves of sweet fire, you're safe within
Sleep, sweetie, let your floods come rushing in,
And carry you over to a new morning

Try as you might
You try to give it up
Seems to be holding on fast

It's hand in your hand
A shadow over your
A beggar for soul in your face

Still it don't matter
If you won't listen
If you won't let them follow you

You just need to heal
Make good all your lies
Move on and don't look behind

Day after day
Fickle visions
Messing with your head
Fickle, vicious
Sleeping in your bed
Messing with your head
Fickle visions
Fickle, vicious"



Wednesday 16 May 2012

Longe Demais


"Alone in the shadows, of a willow tree
I watched from the dark
As you crossed through the park
Coming closer to me
Those brief moments return of the day we first met
The time we shared with that special care
Free from all jealousy
There must be a distant place
Far from every wrong face
Ters won't fall by chance
On this sweet romance..."




Um casal ao telefone faz juras de amor eterno. Logo depois falam sobre algumas fotos comentadas em uma rede social e passam a trocar acusações. Eles choram e ficam em silêncio por alguns momentos até que um deles diz mais uma vez: "Eu te amo". Continuam a chorar um pouco mais e terminam a ligação com mais algumas juras de amor.


Me lembro dos meus dias de apaixonado e percebo que não era muito diferente comigo. Tudo era mágico, especial, único e inesquecível. Até o sofrimento me bater um sem número de vezes na face e me mostrar que a dor não podia mais ser ignorada. E então, de uma forma ou de outra, chegava o tão temido e libertador "fim".


Hoje, assistindo cenas como essas em filmes, livros, músicas e muitas vezes pessoalmente, como testemunha ocular, de casais de amigos meus que vivem e sofrem as desventuras de um relacionamento amoroso, percebo que tudo isso provoca uma tremenda revolta nas minhas entranhas. Sinto um desejo louco de sair de perto e de parar de ouvir tamanha quantidade de merda.


Já estou há mais de oito meses sem me apaixonar por alguém (para alguém que fora tão romantico como eu, uma eternidade, acreditem). Não tenho conseguido chegar nem perto disso. Na verdade, tenho que me controlar para não me aproximar de certas amigas e amigos e dizer: "Acorda! Não percebe o quão ridículo(a) você está se mostrando??" E então... eu me lembro dos meus próprios momentos no passado no papel daquele "cavaleiro de armadura, montado em um alazão branco, e segurando uma rosa vermelha, desafiando o mundo inteiro pelo amor daquela jovem vadia princesa indefesa".


O que me espanta as vezes, é que não foi a primeira decepção amorosa que eu tive. Nem a segunda, terceira, quarta... e de todas elas, eu saía com a esperança e convicção que havia sido apenas a pessoa errada, ou o momento errado ou mesmo o "glauco" errado. E ainda, que havia algo a ser feito para encontrar a felicidade de um doce romance perfeito no futuro. Uhum! Sei... que porra de conto de fadas louco foi esse em que eu passei pelo menos uns 14 anos da minha vida acreditando? Logo eu, alguém que ama ler Kant, Sartre, Hesse, Dostoyevsky, Hemingway e Kerouac... que já possui um tempinho nessa Estrada... que já viveu tantas ilusões e desilusões... levar tantos anos para perceber que os erros no fim, eram apenas os mesmos.


Não estou dizendo que não acredito no amor. Mas esse amor piegas... super influenciado pelas comédias romanticas hollywoodianas e contos de fadas antigos...desses que fazem meus amigos e amigas falarem com voz de criança resfriada, fazendo juras sobre coisas das quais não possuem qualquer tipo de controle, de se negarem a dignidade de serem eles mesmos apenas para evitar "contrariar" o/a amado(a), esse mesmo "amor" só faz rima com dor e dor de cabeça.


Eu sinceramente não sei o que me destina o futuro (uma outra cuspida caprichada para o alto, talvez?) mas sei que hoje, me sinto realmente livre e feliz. Continuaria eu, apreciador de uma boa companhia feminina e de uma longa noite de sexo selvagem? Claro. Mas agora, nada disso se correlaciona com o tipo de amor mencionado e xingado neste texto.



Sunday 6 May 2012

O Inverno de nossos Corações


São aproximadamente 45 minutos de caminhada até o Finsbury Park. Ainda não são sete da manhã e a chuva continua caindo. Se inicia um frio dia de Primavera. As pessoas se apertam umas contra as outras em frente ao ponto de ônibus, embaixo de uma cobertura para escaparem daquela insistente chuva enquanto observam ansiosas, os minutos restantes exibidos em um painel digital para a chegada das respectivas conduções para seus trabalhos.

O que chama a atenção, entretanto, é um casal entre eles. Deitados, envoltos em pelo menos dois antigos "sleeping bags", sobre folhas de jornal e toalhas. Divindo o apertado espaço com as demais pessoas que estão em pé e que parecem ignorar por completo a presença dos mesmos. Imagens como essa não são tão estranhas. Não para pessoas que já viveram no Rio de Janeiro ou em outras grandes cidades espalhadas pelo mundo.

Mas naquela específica manhã de Primavera em Londres, quando pelo menos três camadas de roupas buscam manter cada um aquecido, algo mais pode ser observado naquele casal: Eles estão abraçados. Compartilhando praticamente a única coisa que possuem no momento. A companhia e o calor um do outro. Em contraste com a indiferença que as demais pessoas que estão divindo os mesmos poucos metros quadrados de abrigo contra a chuva com eles. Aquelas pessoas estao todas juntas ao mesmo tempo que parecem estar completamente isoladas em seus próprios castelos.

Os pensamentos voltam para dois dias atrás, quando numa noite tão ou mais fria, passando por uma escura rua próxima a "Charing Cross Station", um outro casal, de idade bem mais avançada e vestindo roupas elegantes, dividem o mesmo espaço com alguns "Homeless" que estavam deitados no chão. Mas o casal parecia bem confortável no meio deles, conversando, sorrindo e distribuindo alimentos. De forma alguma aqueles homens e mulheres de suja aparência e tentando sobreviver a mais uma noite, pareciam lembrar-se de que estavam abandonados a própria sorte. Talvez por que, de fato, não estivessem.

Científicamente, o Frio poderia ser explicado como um processo sensorial produzido pela perda do calor de um corpo ou objeto. Mas também poderia ser definido por aquilo que toma lugar nos corações humanos quando o amor diminui e dá espaço para a vaidade e preocupação excessiva ao "Self".

E tudo em volta parece contribuir para tal esfriamento. O Sistema, as pessoas e seus relacionamentos, seus sonhos e projetos. Nada mais é em observação as reais necessidades dos demais semelhantes. Quase todos querem ser lembrados, buscados e cuidados. Mas realmente muito poucos realmente lembram, buscam e cuidam.

"But the little sticky leaves, and the precious tombs, and the blue sky, and the woman you love! How will you live, how will you love them?" Alyosha cried sorrowfully. "With such a hell in your heart and your head, how can you? No, that's just what you are going away for, to join them... if not, you will kill yourself, you can't endure it!"

"There is a strength to endure everything," Ivan said with a cold smile.
-Fyodor M. Dostoevsky, The Karamazov Brothers.

Talvez a grande maioria das pessoas estejam vivendo uma Estação diferente. Um Inverno prolongado em seus corações.