Wednesday 30 November 2011

A Triste Liberdade da Era Moderna

Multiplicam-se os motivos que levam a humanidade viver de uma forma cada vez menos compromissada com o bem estar comum. Pode ser visto o quanto o ser humano mostra-se distante do seu próximo. São tantos vivendo nas ruas, sem teto, sem garantias básicas de saúde, educação, alimentação, sem qualquer expectativa de uma mudança, de uma melhoria em sua condição se vida. Seus filhos logo estarão pedindo esmolas para o sustento de seus pais, enquanto conhecem a realidade cruel do mundo das drogas, da prostituição e da criminalidade. Não há outras saídas na visão tão prejudicada e limitada desses que são completamente ignorados pela sociedade da qual vivem à margem.

Alguns podem até mesmo se sensibilizar quando, pelo caminho, encontram com estes no ofício diário de pedir qualquer ajuda para seu sustento. A condição miserável até mesmo pode arrancar algumas lágrimas dos que vivem uma realidade diferente, mas não mais do que durante alguns momentos. Esquecem-se e continuam suas vidas, onde uma peça de roupa mais antiga, ou um pedaço de pão, podem representar muito.
Mas não só de roupas velhas e pedaços de pão vivem os homens.

Se a elite que dirige a sociedade não encontrar uma solução para o resgate dessa grande parte da população que precisa de um auxílio imediato e não paliativo, além de uma estrutura realmente sólida na reintegração para com o restante da sociedade, um futuro cada vez mais sombrio, apesar dos avanços tecnológicos, se levantará e derribará a "paz" de todo aquele que nada fez.

Na esfera política, muitos gostam de acusar uns aos outros pela violência que a população sofre nos dias de hoje. Mas o que os mesmos realmente fazem para mudar a triste liberdade daqueles que se utilizam de qualquer meio disponível para sobreviver? Na verdade, chamar de "vida" é um tanto incorreto. Morrem cada vez mais cedo, se multiplicam sem terem condições de sustentar suas crias, espalham o medo e a violência devido a exclusão social, e aos poucos, vão se organizando como um poder paralelo que utiliza o terror para espalhar sua influência e contaminar cada vez mais a sociedade que tanto recriminou e ignorou sua miséria.

Vive-se numa era de novas descobertas, de globalização, de uma conscientização do mundo e dos acontecimentos como nunca se houve na história da humanidade. A maior parte do planeta vive regimes democráticos e a liberdade nunca foi tão valorizada, seja na célula maior da soberania dos Estados, seja na célula menor da individualidade de cada ser humano. O conceito de instituições como o casamento, família, religião, jamais foram tão revistos e criticados como hoje.

O ser humano preza hoje sua liberdade acima de tudo, e tem, numa condição financeira mais privilegiada, a ferramenta necessária e ideal para alcançar seu maior objeto de desejo. Com uma individualidade mais em foco, a humanidade esquece e/ou nada faz para resolver seus problemas sociais mais graves, como a fome, a falta de ensino de qualidade, a miséria, a precariedade da saúde e o desemprego.

Portanto, é para os que desejam ver: O abismo social cresce em proporções nunca antes vistas e está para consumir a todos num futuro não mais tão distante. Ainda há tempo para se desviar de tão execrável caminho. Mas enquanto se olhar os semelhantes da mesma forma que se olha para um objeto ou animal, com total desdém e hipocrisia, a humanidade continuará a passos largos a caminhada para um triste e inexorável destino.

Pense. Olhe com novos olhos para aqueles com quem convive. Não aceite viver como uma ilha, se isolando num mundo só seu. Faça a diferença. Seja exemplo. Não desista devido a indiferença dos outros. Procure aqueles que pensam como você e estude como fazer a transformação da realidade em sua volta. Comece em seu pensamento e progrida pela sua casa, seu bairro, seus amigos, sua cidade, e jamais pare. Foram indivíduos como você que fizeram a diferença um dia. Faça sua parte hoje e salve o amanhã.

Só assim, poder-se-á regozijar na tão almejada paz e liberdade que se busca.

Monday 28 November 2011

Empescher Entre Le Banc et Le Feu

Escrevi estas linhas num momento de completa solidão. Estava tão distante das emoções que me dominaram por tanto tempo que mal podia ouvir minha própria respiração. Na verdade, finalmente morria meu antigo pensamento.

Quanto mais me aprofundo nas minhas observações sobre relacionamentos, aumentam ainda mais minhas convicções de que a grande parte dos sentimentos são completamente perniciosos à alma do ser humano. O coração é completamente enganoso e profere apenas aquilo do que está cheio.

Vejo o quanto algumas pessoas se fecham e lançam em lugar obscuro, as chaves dos grilhões onde trancaram suas almas. Apreciam a solidão e querem aprender cada vez mais a viver de uma forma ainda mais harmoniosa com a mesma. Exaltam a solidão, mas pecam num ponto. Esquecem que para crescerem é também preciso compartilhar suas vidas.

Acredito realmente que muitas vezes precisamos aprender lições sozinhos e, dos momentos de solidão, retirar importantes ensinamentos. Absorver a essência do que realmente somos e do que devemos exercer.

Entretanto, o ser humano não pode negar durante todo tempo sua natureza social. É através do convívio e da troca de experiências que colocamos à prova a formação de nosso caráter e a real magnitude de nossas almas. Apenas quando aprendemos a respeitar e amar nosso semelhante, é que conhecemos de fato a paz que nossas almas tanto buscam.

Não se deve permitir que um isolamento exagerado alimente o vazio que cresce continuamente enquanto houver a negação de qualquer participação externa do próximo. É necessário buscar a felicidade e não permitir uma comodidade.

Não se entregue!

Se estiver vivendo um momento difícil, movimente-se, acredite no seu próprio poder de mudar a realidade a sua volta.

“Quanto mais eles se entregam à dor, tanto mais ela os domina”
– Santo Agostinho.

Por fim, concluo: Através da razão, examinem-se os motivos do coração. Mas jamais entreguem-se por completo à solidão. Busquem o equilíbrio e não temam o aprendizado.

Saturday 26 November 2011

Rotas Iguais – Portos Diferentes

Quando procuramos entender os motivos do coração, somos levados inúmeras vezes a refletir sobre o peso que os sentimentos possuem em nossas vidas. Sendo bastante pessoal, mas tentando ser imparcial, vou falar de algumas experiências que vivi e que foram também vividas e contadas pelas pessoas que me procuraram para discutir sobre suas vidas sentimentais. Espero que a subjetividade de minhas palavras possa ser contida. Estamos sozinhos. E poucos gostam realmente de se sentirem assim.

Estamos navegando todos juntos o mesmo Barco. Somos mais semelhantes uns aos outros do que gostaríamos, mas é exatamente este fato que nos revela o quanto poderíamos aprender melhor observando o mundo a nossa volta. Esqueçamos os erros dos demais. Lembremo-nos que também somos passíveis de toda sorte de erros. Muitas vezes, traçamos metas bastante semelhantes umas com as outras e acabamos errando no mesmo ponto que alguém não muito distante de nós, quando não ao lado, errou também. Seria fácil se a arte de observar o erro alheio fosse o suficiente para aprendermos o que deve ser feito e o que não se deve fazer. Não funciona assim. Precisamos aprender sobre o empirismo.

Sobre a arte de sofrer uma experiência, mesmo sabendo sobre suas conseqüências. Devemos saber ir em frente quando necessário e parar quando não há mais nada a aprender. Quem nunca se perguntou o motivo de tanto sofrimento? De repetir uma vez mais o erro de se entregar, de se decepcionar, de se sentir enganado? De ser no fim, abandonado à própria sorte? Todos passamos pelas mesmas circunstâncias mais de uma vez, observamos o mesmo ao nosso derredor; atravessamos as mesmas rotas no mesmo Barco. Mas de certo há o que diferencia-nos uns dos outros também neste aspecto.

São nossas decisões que nos levam aos mais diferentes portos. Aos mais diferentes fins. Podemos nos levantar cada vez mais fortalecidos e detentores de um pouco mais de sabedoria, para reagirmos melhor a cada eventual tropeço que possamos vir a dar. Afinal, relembrando, somos absolutamente falhos. Mas também podemos permanecer vivendo um ciclo eterno, uma vida de sofrimento que parece mudar apenas de nome. Sempre padecendo, sempre se decepcionando e nos perguntando: Até quando sofrerei da mesma forma? Depende apenas de nós mesmos. Sei o quanto dói amar e não ser correspondido. Sei o quanto é amargo lembrar de cada momento em que nos sentimos especiais, do quanto fomos cativados. Sei o que é fazer planos e ver cada um deles apenas como um roto rascunho de nossos mais profundos sonhos, todos eles frustrados.

E ainda, o que é ferir um coração da mesma forma que fora ferido o meu. O que é deixar alguém a sua própria sorte. O que é ser alvo de tanto amor e depois, de tanto ódio e ressentimento. Vejo tantos participando deste jogo. Porém, chega um momento em que os jogos perdem a graça. Independente de vencer ou perder, tudo o que importa é não mais participar. Não mais permitir que as emoções venham decidir uma só questão. Mas como se relacionar sem permitir envolvimento? Sem permitir sentimento? Seria certo realmente nos fecharmos dentro de nós mesmos, confinados juntamente com tantas feridas? Não posso crer que encontraremos a cura nessa atitude. Apenas permitiremos que uma infecção se crie dentro de nós.

Melhor do que buscar não errar novamente, é entender no que erramos. No por que erramos. Só assim, encontraremos um destino diferente, mesmo que estejamos em rotas iguais.

Wednesday 23 November 2011

[ Respeito ]

Na grande maioria das pessoas, coexistem os pontos de partida para as duas correntes de comportamento que são aparentemente díspares. A estrutura emocional delas se situa em algum ponto intermediário, numa região de tons acinzentados que podem vir a se tornar mais claros ou mais escuros com muita facilidade, pela simples interação.

Às vezes, essas reações instintivas são difíceis de se superar, às vezes, pode ser que as mesmas sejam permanentes.

Talvez o segredo esteja apenas no respeito.

Aquele que demonstra respeito por qualquer pessoa que passe pela sua vida se mostra sábio. Muitas pessoas fazem questão de frisar que o seu respeito deve ser conquistado, e como boa parte delas, tive a oportunidade de observar que não é uma tarefa fácil.

Muitas pessoas exigem que qualquer um que esteja interessado na sua amizade, primeiro ganhe o seu respeito; além de entender esse ponto de vista, eu confesso que era o meu próprio meio de agir.

Mas a vida costuma ensinar importantes lições e com o passar dos anos, percebi que exigir que uma pessoa conquiste o nosso respeito é, por si só, um ato de arrogância, um modo de dar-se importância que, por sua própria natureza, implica que o seu respeito é algo digno de ser ganho.

Pode parecer uma alternativa sutil demais, mas com certeza não é. Mesmo quando houver a interação com pessoas estranhas, a atitude não deve permear o menor ar de superioridade. Aos olhos e no coração, deve-se considerar o outro igual. Devemos ser capazes de agir assim, com sinceridade, para enxergarmos o mundo através dos olhos das outras pessoas.

Desde então, tenho enxergado uma abordagem diametralmente oposta, de aceitação e sem pré-julgamentos. Quando eu vir a conhecer uma pessoa, eu não devo cobrar dela que a mesma conquiste o meu respeito. Eu devo conceder, com satisfação e boa vontade, na esperança de que, ao fazê-lo, terei a oportunidade de aprender mais.

Algumas pessoas poderiam vir a encarar isso como fraqueza ou covardia. Não importa. Não é o medo que deve guiar nossas ações. Deve ser a esperança.

Tuesday 22 November 2011

Valores

Depois de ler um interessante texto sobre ética, escrevo nestas linhas um pouco do que absorvi do mesmo.

Há uma pergunta no ar. Ou pelo menos, deveríamos nos perguntar: Que tipo de pessoas estamos vendo à nossa volta? Homens e mulheres que vão fazer do Brasil o país dos nossos sonhos? Mais provavelmente, pessoas que sonham apenas em serem bem-sucedidas em suas atividades, preocupadas somente consigo mesmas e com os seus, com a conta bancária, posses, confortos, vaidades e egoísmos, deslizando em pantufas pela vida, só pensando em levar vantagem, querendo sempre dar um jeitinho e certos de que os fins justificam os meios.

Alguns que me conhecem sabem que sou admirador do filósofo I. Kant e o mesmo define muito bem o que é Ética: Respeito á dignidade do outro. Um pensador bastante conhecido (Karl Marx) disse que a essência humana é o conjunto de suas relações sociais. A ética Agostiniana nos fala de uma relação de amor entre as pessoas.

Estamos sofrendo as conseqüências desta generalizada falta de ética entre nós. Alguns setores da sociedade pensaram tanto em si, que esqueceram dos menos favorecidos, aumentando cada vez mais o abismo entre as diversas classes. Agora, a minoria que alcançou seus sonhos de consumo, esquecendo-se completamente da ética, convivem com a violência que a miséria que permitiram gerou. E é certo que essa violência de uma forma ou de outra, os atingirá.

Vivem o medo e buscam discriminar cada vez mais.

A Ética seria a ciência da Moral, o estudo dos juízos de apreciação referentes a princípios de conduta humana, o equilíbrio no contato entre as pessoas.

Mas nós, brasileiros, herdamos uma cultura de mercadores, traficantes de escravos e clandestinos de todos os tipos e nos acomodamos com a idéia mesquinha dos que imaginam que quando se lesa o estado, não se está tirando de ninguém.

Nós somos o Estado.

Devemos parar de buscar status e de viver de aparência. Dinheiro, bens materiais, status, nada disso representa os verdadeiros valores da vida. Devemos aprender a valorizar os atributos morais mais elevados, a honestidade, o respeito ao outro, a polidez, a humildade, a lealdade, a paciência e, principalmente, a ética.

Referências: Fundamentos da Metafísica dos Costumes - Kant,I.
O Prelo / Os Valores da Ética – Niskier, Arnaldo.

Wednesday 16 November 2011

Onde você deseja estar? :: Parte 2 ::

Ele sabe que não vai se lembrar do nome daquela música no dia seguinte. Sabe também que isso é o que menos importa agora. O que importa é viver o momento intensamente. E eles dançam. Normalmente, ele estaria analisando seus próprios passos, calculando espaços e pensando naquela que foi seu par por tanto tempo. Mas dessa vez é diferente. Haverá tempo para se culpar novamente. Sempre há tempo para isso. O que ele desejar agora, é sentir aquele corpo junto ao seu.

A sensação de ser tocado o encaminha a pensamentos inesperados. Não se deixava tocar há meses por alguém. Sem apertos de mãos ou simples abraços. Quando em seu quarto, tudo o que desejava era não ser incomodado. Não queria visitas ou batidas em sua porta. O casaco de couro marrom que havia trazido de Toronto, pendurado nesta mesma porta, era seu símbolo de rebeldia contra a Sociedade hipócrita que acreditava o cercar. Estava tão fechado dentro de si mesmo que não percebeu o quanto estava sozinho.

Mas eles continuam dançando. Música após música. Se realmente aquilo poderia ser chamado de música, pensa ele. Mas cumprira seu propósito. Estavam empolgados e desligados dos seus problemas enquanto duraram aqueles momentos. Como curioso acerca da vida e dos comportamentos, ele decidiu observar tudo a sua volta. Se deleitou com o sorriso da loira menina com quem dançava, se divertiu com o olhar de aprovação dos seus conhecidos que, como uma banca julgadora, davam altas notas para a escolha dele naquela noite e se divertiu com o casal dançando ao seu lado, que parecia acreditar estar em uma competição para um programa de domingo na tv.

Ele não sabe quanto tempo se passou. Havia decidido parar de olhar para seu telefone celular. Havia decidido parar de se preocupar tanto. Uma banda estava se preparando no palco para um apresentação. No seu íntimo, fez torcida para que eles pudessem tocar alguma canção mais próxima do seu gosto musical. Ele não poderia estar mais errado. Apesar da agradável companhia, ele não sente desejo mais de dançar. O que ele gostaria mesmo, era de saber o nome dela. Porém, é ela que inicia a conversa: - Você é brasileiro? Ela pergunta. - Sim. Ele responde sorrindo, sentindo um inexplicável prazer ao não ser reconhecido como brasleiro.

- Vamos pegar um pouco de ar fresco lá fora? Ela pergunta com um brilho no olhar.

Ele nota que ela não gostou da mudança no estilo de música, tanto quanto ele. Sem dizer nada aos que o acompanhavam, deixam a área v.i.p. juntos, passando por dentro da pequena multidão que dançava de forma bastante extravagante. Ele confere se ainda está usando a pulseira que o deram na entrada e, junto com ela, passam por dois seguranças na porta que serve de saída do local. Já do lado de fora, ele sente a forte mudança de temperatura e se pergunta por que deixou o casaco sobre uma das poltronas tão confortáveis que ele havia sentado. Ela parece também estar com frio, e como ele, havia esquecido de trazer seu casaco consigo. Brasileiros, ele pensa. Viver alguns anos fora de sua pátria não é o suficiente para fazê-los abandonar certos hábitos.

Vários vasos de plantas decoram a saída do local. Ele se impressiona quando observa a parte externa daquela casa noturna, localizada entre imponentes edifícios quase no centro de Londres. Viver naquela cidade continua sendo uma experiência incrível, mesmo nos momentos em que ele se sente mais infeliz. Súbitamente, ela o puxa pelo braço e o abraça. Ele ouve gritos. Dois homens gritam desafios um para o outro. Uma briga. Um deles é alto, ombros e braços largos, branco e cabelo bem curto. Está visivelmente embriagado. O outro, é quase tão alto quanto ele, negro, bem magro. Não parece uma luta muito justa. Há mais gritos. São de duas mulheres tentando conter aquele que esta bêbado. Apesar da confusão que se iniciou, a briga não acontece. Minutos depois parece que aquela situação simplesmente não existiu.

Eles decidem voltar para dentro da casa noturna para pegarem seus casacos e se despedirem de seus conhecidos. São quase quatro da manhã. Quando finalmente retornam a área v.i.p., eles encontram todos os demais sentados, alguns conversando, outros já estão dormindo naquelas poltronas tão confortáveis. Ele decide fazer o mesmo, e se acomoda em uma delas. Há o que restou de uma torta, provavelmente do aniverário da menina que o convidou, acima de uma das mesas. Não há muito mais o que se fazer no local. Todos decidem, logo depois, chamarem os "cabs" pelo telefone para voltarem para casa. A jovem de cabelos loiros se senta ao lado dele. - Qual é o seu nome? Ele pergunta, sorrindo.

- Nádia. E o seu?

[ Continua... ]

Monday 14 November 2011

Onde você deseja estar?

O suor desce pelo seu rosto. Diferente do clima frio do lado de fora, ele pode sentir sua camisa social marrom colando em seu corpo. A música não o ajuda a relaxar. Ele não consegue deixar de acompanhar as letras das canções, falando de traições e paixões proibidas. No início ele não pensava em dançar. Se pudesse apenas permanecer sentado em uma daquelas confortáveis poltronas de estilo antigo que cercavam a pequena área destinada para quem quisesse dançar, ele o faria. Mas havia uma atraente jovem de cabelos loiros e vestido preto insistindo por companhia.

Horas atrás ele estava em seu quarto. Deitado sobre um saco de dormir com muitas histórias, ele relembra alguma delas. A janela está fechada e as luzes, apagadas. A tristeza, companheira de tantos momentos, sussurra no seu ouvido uma antiga canção. Não importa mais. Ele decidiu dar um passo adiante e deixar o passado para trás. Nunca é fácil, ele lembra. Mas já foi feito antes. Por ele e por outras pessoas. Na opinião dele, a dor não parece diminuir. Ele se culpa por toda dor que causou e vai causar. Ele sempre se culpa.

Ele escuta batidas em sua porta. Depois de enxugar descuidadosamente as muitas lágrimas que desceram pelo seu rosto, ele se levanta lentamente e caminha até a porta. Decide não abri-la e apenas pergunta o que desejam. Ele já sabe antes da resposta o que eles querem. Sim, ele responde para os outros, confirmando que vai na tal festa de aniversário com eles. Ainda faltam algumas horas até o início da mesma. Ele decide então, se deitar por um pouco mais antes de ir se arrumar. Ele pondera se realmente deveria ir.

Mais e mais pessoas vão chegando em sua casa. Amigos e amigas da aniversariante. A maioria trazendo cervejas e "spirits" para beberem antes de ir para a casa noturna onde sera celebrada a festa. Fotos são tiradas, histórias são contadas. Ele não poderia recontar nenhuma delas. Não é ali onde ele queria estar. Não são com essas pessoas que ele gostaria de estar ouvindo histórias e tirando fotos. Mas isso não o impede de pegar um copo limpo no armário e despejar sobre o mesmo um pouco de Jack Daniels. Ele vê algumas latas de água de coco sobre a mesa mas decide não misturar na sua bebida. Pouco tempo depois, estão todos prontos esperando pelos "Cabs".

A música é horrível. Ele não consegue entender por que tantos em sua pátria conseguem dançar e cantar ao som daquele estilo. Nada consegue fazê-lo para de pensar no grande engano que ele cometeu ao aceitar vir. Em frente a casa noturna, pouco antes de entrar, um dos seus colegas tenta convencer um grupo de ingleses a também entrar. Provavelmente por causa das meninas que faziam parte do mesmo grupo. Elas trocam olhares e se mostram interessadas. O único rapaz que as estava acompanhando, não. Impressionante como elas conseguem usar vestidos tão curtos numa noite tão fria como essa.

O banheiro daquele lugar é bem limpo, comparado ao que ele viu em outras casas como aquela, no centro de Londres. Após lavar as mãos, ele se olha no espelho e lembra da jovem que deixou esperando na pista de dança. Ele novamente pega do bolso, o seu celular. Consulta as horas, os emails, e a lista de amigos "online". Ele lembra das pessoas que já não fazem mais parte dessas listas e guarda o celular novamente no bolso. As escadas o levam para bem próximo da entrada da área v.i.p. e para junto do grupo com quem ele veio. Ele atravessa aquela pequena multidão para chegar perto daqueles rostos conhecidos, pensando que no fundo, não queria estar com eles.

Então ele a vê antes de se aproximar. Parado, ele bebe seu drink lentamente enquanto a observa melhor. Ela é bem mais atraente do que ele percebera antes. Ela está dançando sozinha, com outros rapazes ao seu redor quando ele se aproxima. Ele então decide ir até ela e ao percebe-la sorrindo, cola seu corpo ao dela. O olhar dela o provoca. Ela aperta ainda mais o seu corpo ao dele. E a dança começa.

[ continua... ]

Saturday 12 November 2011

Entre Estações

As folhas começaram a cair. Todas elas. O vento um pouco mais frio obriga quase todos a mudarem a forma de se vestirem. Nessa típica manhã de outono, ele está caminhando pelas ruas com uma camisa de algodao preta bem gasta, daquelas que ele não deve cansar de usar, e um pesado casaco de inverno, grande demais para ele.

Como as árvores perdendo suas folhas, ele deixa que as lembranças de dias felizes o abandonem. Não é culpa do vento que agora sopra mais forte. A razão disso é a Natureza. É simplesmente chegado o momento delas caírem. É chegado o momento dele permitir que o ciclo no qual ele estava preso, chegue ao seu devido fim.

Ele caminha devagar. Antes de chegar ao seu destino, seus pensamentos vão uma vez mais para o passado. Se passaram várias estações desde que, numa manhã de Inverno, ele se descobrisse caminhando sozinho por uma praia deserta, cheia de pedras ao invés de areias. E neste mesmo lugar, no meio de tantas outras, ele encontrou uma pedra.

A pedra não era diferente das demais antes de ser encontrada. Mas no exato momento em que ele a tocou, ela se tornou única. E ele estava consciente disso também. Então, continuando sua caminhada, arrebatado pela visão da imensidão do mar e pelos sentimentos que habitavam seu ser, ele segurou firme aquela pedra. Olhando para um céu cinzento de inverno, no forte frio que o fazia tremer, ele fez uma promessa.

Ele encontrou seu destino. Um rio. As lágrimas são suas companheiras agora. As lembranças vem e vão, como folhas dançando ao vento. E por mais alto que elas voem, elas não podem mais fazer parte da árvore de onde saíram. "Estações se passaram.", ele repete para si mesmo. Não mais o mar. Um rio. É chegado o momento.

Ele segura a pedra com a mesma força do dia em que fez a promessa. Uma oração é feita. Um pedido de perdão. Ele gostaria de realmente saber se tudo aquilo que passou foi mesmo em vão. Mas isso não o preocupa tanto agora. Sua alma se agita. Ele repete aquele nome uma última vez mais antes de mirar o centro do rio. Ele sempre soube que um dia iria fazê-lo. Isso é o que mais o machuca.

Ele lança a pedra ao rio. Ela nunca o pertenceu. Mas um pensamento cala seus soluços e seca suas lágrimas: A pedra, que antes estava à beira de um mar revolto, agora repousa no leito da mansidão de um rio. Nada é por acaso. Para tudo há um propósito.

Sunday 6 November 2011

Sementes

"Eis que o semeador saiu a semear.
E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na;
E outra parte caiu em pedregais onde não havia terra bastante, e logo nasceu, por que não tinha terra funda. Mas vindo o sol, queimou-se e secou-se, por que não tinha raiz.
E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
E outra caiu em boa terra e deu fruto: Um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.
Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça." [*]

Eu tenho buscado pela Paz. Não, não é uma busca das mais fáceis. E existem muitas palavras mágicas, atalhos suspeitos, falsos mestres e pessoas vivendo de enganos pelo meio do estrada.
E mesmo que eu viesse até aqui com uma resposta, sendo ela verdadeira, ainda assim ela poderia ser inútil para você. Cada um tem sua busca pessoal. Cada um deve experimentar a vida em busca de saciar sua própria sede.

Não tenha medo de viver. Não tenha medo de buscar por respostas.

Ainda há fantasmas me assombrando. Estão sob aparente controle no momento, mas sei que ainda estão lá. E é claro que eu gostaria que apenas deixassem de existir. No entanto, não é assim que funciona. Preciso confrontá-los. Certas situações na vida são como uma doença sem profundos sintomas: Se você apenas as ignorar, elas vão crescer e crescer, te acompanharão aonde você for e um dia, se manifestarão de forma que você não poderá mais fingir que as mesmas não existem. Até o dia em que as consequências possam ser irreversíveis.

Fingir que não está doente não cura a doença.

Eu tenho sentido mais paz do que há algumas semanas ou meses atrás. Eu tenho conversado com pessoas maravilhosas, sonhado novamente e voltado a sentir sede! Estou me reiventando mais uma vez e buscando me calar para ouvir o rio. [**]

E tenho semeado. Para no tempo certo, experimentar doces frutos.



[*] Mt. 13:3-9
[**] Siddhartha by Herman Hesse.

Saturday 5 November 2011

Entre Lâmpadas e Lâminas

Uma fina e fria chuva começa a cair nos poucos momentos seguidos de eu deixar meu abrigo. Escuto os sapatos que vieram do outro lado do mundo no meu continuo caminhar por essas ruas não tão conhecidas. Enquanto estou seguindo para meu destino naquela manhã, lembro-me da visão da noite anterior e dos muitos pensamentos tragos pela mesma.

Não preciso ser um estrategista militar para saber o quanto uma força dividida é uma força enfraquecida e condenada a se partir. Se nós, como seres humanos, perdemos o nosso foco, nosso objetivo, estamos simplesmente desacelerando nossos passos até pararmos por completo. Aquele que não sabe para onde vai, jamais chega à lugar algum.

Esta é a minha estação do ano favorita. O frio está chegando e tudo a minhã volta me lembra disso. As muitas folhas secas caídas ao chão, as pessoas vestindo roupas sobre roupas e a quantidade cada vez menor delas andando pelo grande parque em frente da casa onde vivo. Vejo alguém trabalhando em ajuntar as muitas folhas caídas. Uma tarefa que será repetida todos os dias até que a neve comece a cair.

Por que deveríamos ajuntar as folhas que caem e lança-las fora todos os dias, se no dia seguinte, mais e mais também irão cair? O quão repetitivo e sem sentido parece essa tarefa! Porém, logo percebo o quanto os caminhos ainda não limpos atrapalham os que caminham pelo parque, mesmo eles sendo poucos. E me lembro ainda, que o Inverno está vindo.

Após atravessar o parque, encontro do outro lado da rua, um estabelecimento que me chama a atenção: Uma loja de livros usados! "Book Mongers - Secondhand Books". Não conseguindo resistir e de bom grado, me desvio do caminho e atravesso a rua. Na vitrine, alguém me chama: Jack Kerouac e seu "On the Road". Há muitos anos atrás, quando eu ainda vivia no Brasil e estar aqui era apenas um sonho distante, a leitura de "On the Road" havia me marcado de forma contundente. Estar na Estrada!

Não houve muita hesitação. Após entrar na loja, o meu primeiro impulso foi realmente, pela parte de dentro, alcançar na prateleira da vitrine, uma versão de 1972 lançada no Reino Unido. Que felicidade! Apesar de ainda olhar por alguns outros títulos, como "The Castle" de Kafka, "The First Man" do Camus, entre outros, não larguei meu achado em momento algum. E de lá, após uma curta conversa com o dono do estabelecimento sobre a diferença Tom Wolfe e Thomas Wolfe, fui direto para um lugar chamado "Federation Coffee Piano House". Um ambiente extremamente agradável para saborear um bom expresso e iniciar a minha leitura.

Após estes bons momentos, voltei por um caminho diferente do usual. Foi quando percebi que eu não estava mais pensando sobre a visão. Que não estava mais chuvendo. E que os sapatos que vieram do outro lado do mundo, eram apenas sapatos.

E havia silêncio.

From the Silence, comes the Peace.
With Peace, comes the Freedom.
With Freedom, comes The Silence.
-Poets of the Fall.

Thursday 3 November 2011

O tempo que se chama Hoje

O hoje sempre revela muitas surpresas. Algumas vezes, somos tão cegos que não conseguimos enxergar as mesmas bem diante dos nossos olhos. Estamos com nossos olhos vendados pelos nossos desejos e medos, ou estamos confusos sem saber em que direção deveríamos estar seguindo.

O hoje sempre é o tempo certo para meditarmos sobre o passado com a finalidade de percebermos o resultado de nossos escolhas. Estudar sobre o que deu certo e o que deu errado. Que atitudes repetir e que atitudes não. Não deveríamos olhar o passado em busca de tristezas, mas sim em busca de saberdoria.

O hoje sempre é o tempo certo para nos prepararmos para o futuro. Para plantarmos as sementes que ditarão a realidade que viveremos amanhã. Também é olhando para o futuro que ganhamos forças para viver o hoje. Simples: Ninguém que trabalha no campo, semeia se não soubesse que no tempo certo, iria colher aquilo que planta. Assim se dá numa esfera maior da realidade: Levantamos todos os dias por que desejamos ver os resultados de nossas ações. Ninguém trabalha 30 dias e não espera receber seu pagamento no final do mês. Ninguém estuda 3, 4 anos em uma universidade não esperando receber um diploma no final da mesma. Ninguém ama por meses ou anos não esperando um mínimo de carinho, respeito e amor do outro par. (todos esperamos a paga pelo que fazemos)

O ser humano vive o hoje, para reviver o que foi bom no passado, para não viver o que foi ruim no passado. O ser humano vive o hoje, por que deseja ver os resultados das sementes que plantou.

Levantamos e continuamos na estrada da vida por que sonhamos. Por que temos objetivos que desejamos ver realizados em nossas vidas. Por que temos esperança. Vivamos o hoje.

"Bibamus, moriendum est."

É provável, porém não comprovado, que esta frase tenha tido Seneca como autor. Eu pessoalmente acho o sentido da mesma muito perigosa. Talvez o autor não acreditasse no propósito de sonhar e de enxergar a vida com esperança no por vir. Se eu mesmo não acreditasse no amanhã, eu já estaria morto.

Benjamin Franklin disse: "Some people die at 25 and aren't buried until 75." Sou obrigado a concordar com o mesmo.