Saturday 5 November 2011

Entre Lâmpadas e Lâminas

Uma fina e fria chuva começa a cair nos poucos momentos seguidos de eu deixar meu abrigo. Escuto os sapatos que vieram do outro lado do mundo no meu continuo caminhar por essas ruas não tão conhecidas. Enquanto estou seguindo para meu destino naquela manhã, lembro-me da visão da noite anterior e dos muitos pensamentos tragos pela mesma.

Não preciso ser um estrategista militar para saber o quanto uma força dividida é uma força enfraquecida e condenada a se partir. Se nós, como seres humanos, perdemos o nosso foco, nosso objetivo, estamos simplesmente desacelerando nossos passos até pararmos por completo. Aquele que não sabe para onde vai, jamais chega à lugar algum.

Esta é a minha estação do ano favorita. O frio está chegando e tudo a minhã volta me lembra disso. As muitas folhas secas caídas ao chão, as pessoas vestindo roupas sobre roupas e a quantidade cada vez menor delas andando pelo grande parque em frente da casa onde vivo. Vejo alguém trabalhando em ajuntar as muitas folhas caídas. Uma tarefa que será repetida todos os dias até que a neve comece a cair.

Por que deveríamos ajuntar as folhas que caem e lança-las fora todos os dias, se no dia seguinte, mais e mais também irão cair? O quão repetitivo e sem sentido parece essa tarefa! Porém, logo percebo o quanto os caminhos ainda não limpos atrapalham os que caminham pelo parque, mesmo eles sendo poucos. E me lembro ainda, que o Inverno está vindo.

Após atravessar o parque, encontro do outro lado da rua, um estabelecimento que me chama a atenção: Uma loja de livros usados! "Book Mongers - Secondhand Books". Não conseguindo resistir e de bom grado, me desvio do caminho e atravesso a rua. Na vitrine, alguém me chama: Jack Kerouac e seu "On the Road". Há muitos anos atrás, quando eu ainda vivia no Brasil e estar aqui era apenas um sonho distante, a leitura de "On the Road" havia me marcado de forma contundente. Estar na Estrada!

Não houve muita hesitação. Após entrar na loja, o meu primeiro impulso foi realmente, pela parte de dentro, alcançar na prateleira da vitrine, uma versão de 1972 lançada no Reino Unido. Que felicidade! Apesar de ainda olhar por alguns outros títulos, como "The Castle" de Kafka, "The First Man" do Camus, entre outros, não larguei meu achado em momento algum. E de lá, após uma curta conversa com o dono do estabelecimento sobre a diferença Tom Wolfe e Thomas Wolfe, fui direto para um lugar chamado "Federation Coffee Piano House". Um ambiente extremamente agradável para saborear um bom expresso e iniciar a minha leitura.

Após estes bons momentos, voltei por um caminho diferente do usual. Foi quando percebi que eu não estava mais pensando sobre a visão. Que não estava mais chuvendo. E que os sapatos que vieram do outro lado do mundo, eram apenas sapatos.

E havia silêncio.

From the Silence, comes the Peace.
With Peace, comes the Freedom.
With Freedom, comes The Silence.
-Poets of the Fall.

1 comment:

  1. Ah, amigo! De certa forma estava te acompanhando nessa caminhada. Compartilhei com vc seu achado e pela sua voz perguntei pelo Thomas Wolfe! Vi a livraria se destacando na paisagem tão cinza, qse senti frio; fechei os olhos e quis estar aí com vc.

    Me sinto vc comprando traducoes de livros já lidos, fazendo achados em sebos, eufórico como uma crianca na loja de brinquedos, abracando um achado e não largando-o mais.

    Vc sabe q nao está sozinho nesse silêncio.

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