Saturday 12 November 2011

Entre Estações

As folhas começaram a cair. Todas elas. O vento um pouco mais frio obriga quase todos a mudarem a forma de se vestirem. Nessa típica manhã de outono, ele está caminhando pelas ruas com uma camisa de algodao preta bem gasta, daquelas que ele não deve cansar de usar, e um pesado casaco de inverno, grande demais para ele.

Como as árvores perdendo suas folhas, ele deixa que as lembranças de dias felizes o abandonem. Não é culpa do vento que agora sopra mais forte. A razão disso é a Natureza. É simplesmente chegado o momento delas caírem. É chegado o momento dele permitir que o ciclo no qual ele estava preso, chegue ao seu devido fim.

Ele caminha devagar. Antes de chegar ao seu destino, seus pensamentos vão uma vez mais para o passado. Se passaram várias estações desde que, numa manhã de Inverno, ele se descobrisse caminhando sozinho por uma praia deserta, cheia de pedras ao invés de areias. E neste mesmo lugar, no meio de tantas outras, ele encontrou uma pedra.

A pedra não era diferente das demais antes de ser encontrada. Mas no exato momento em que ele a tocou, ela se tornou única. E ele estava consciente disso também. Então, continuando sua caminhada, arrebatado pela visão da imensidão do mar e pelos sentimentos que habitavam seu ser, ele segurou firme aquela pedra. Olhando para um céu cinzento de inverno, no forte frio que o fazia tremer, ele fez uma promessa.

Ele encontrou seu destino. Um rio. As lágrimas são suas companheiras agora. As lembranças vem e vão, como folhas dançando ao vento. E por mais alto que elas voem, elas não podem mais fazer parte da árvore de onde saíram. "Estações se passaram.", ele repete para si mesmo. Não mais o mar. Um rio. É chegado o momento.

Ele segura a pedra com a mesma força do dia em que fez a promessa. Uma oração é feita. Um pedido de perdão. Ele gostaria de realmente saber se tudo aquilo que passou foi mesmo em vão. Mas isso não o preocupa tanto agora. Sua alma se agita. Ele repete aquele nome uma última vez mais antes de mirar o centro do rio. Ele sempre soube que um dia iria fazê-lo. Isso é o que mais o machuca.

Ele lança a pedra ao rio. Ela nunca o pertenceu. Mas um pensamento cala seus soluços e seca suas lágrimas: A pedra, que antes estava à beira de um mar revolto, agora repousa no leito da mansidão de um rio. Nada é por acaso. Para tudo há um propósito.

2 comments:

  1. querido... ela ñ é a primeira, nem será a última pedra. Mas, com certeza, neste momento... ela é A Pedra!`as vezes lutamos e queremos tanto algo... E a verdade é que não sabemos o que é para nós... Não temos ideia do que o destino nos reserva... Nem temos ideia do momento em que será necessário sofrer para alcançarmos algo que ainda nem visionamos... ou do momento de sorrir bastante porque em pouco tempo as lágrimas virão. Mas Ele sabe. Com certeza, "nada é por acaso. Para tudo há um propósito."

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