Sunday 6 May 2012

O Inverno de nossos Corações


São aproximadamente 45 minutos de caminhada até o Finsbury Park. Ainda não são sete da manhã e a chuva continua caindo. Se inicia um frio dia de Primavera. As pessoas se apertam umas contra as outras em frente ao ponto de ônibus, embaixo de uma cobertura para escaparem daquela insistente chuva enquanto observam ansiosas, os minutos restantes exibidos em um painel digital para a chegada das respectivas conduções para seus trabalhos.

O que chama a atenção, entretanto, é um casal entre eles. Deitados, envoltos em pelo menos dois antigos "sleeping bags", sobre folhas de jornal e toalhas. Divindo o apertado espaço com as demais pessoas que estão em pé e que parecem ignorar por completo a presença dos mesmos. Imagens como essa não são tão estranhas. Não para pessoas que já viveram no Rio de Janeiro ou em outras grandes cidades espalhadas pelo mundo.

Mas naquela específica manhã de Primavera em Londres, quando pelo menos três camadas de roupas buscam manter cada um aquecido, algo mais pode ser observado naquele casal: Eles estão abraçados. Compartilhando praticamente a única coisa que possuem no momento. A companhia e o calor um do outro. Em contraste com a indiferença que as demais pessoas que estão divindo os mesmos poucos metros quadrados de abrigo contra a chuva com eles. Aquelas pessoas estao todas juntas ao mesmo tempo que parecem estar completamente isoladas em seus próprios castelos.

Os pensamentos voltam para dois dias atrás, quando numa noite tão ou mais fria, passando por uma escura rua próxima a "Charing Cross Station", um outro casal, de idade bem mais avançada e vestindo roupas elegantes, dividem o mesmo espaço com alguns "Homeless" que estavam deitados no chão. Mas o casal parecia bem confortável no meio deles, conversando, sorrindo e distribuindo alimentos. De forma alguma aqueles homens e mulheres de suja aparência e tentando sobreviver a mais uma noite, pareciam lembrar-se de que estavam abandonados a própria sorte. Talvez por que, de fato, não estivessem.

Científicamente, o Frio poderia ser explicado como um processo sensorial produzido pela perda do calor de um corpo ou objeto. Mas também poderia ser definido por aquilo que toma lugar nos corações humanos quando o amor diminui e dá espaço para a vaidade e preocupação excessiva ao "Self".

E tudo em volta parece contribuir para tal esfriamento. O Sistema, as pessoas e seus relacionamentos, seus sonhos e projetos. Nada mais é em observação as reais necessidades dos demais semelhantes. Quase todos querem ser lembrados, buscados e cuidados. Mas realmente muito poucos realmente lembram, buscam e cuidam.

"But the little sticky leaves, and the precious tombs, and the blue sky, and the woman you love! How will you live, how will you love them?" Alyosha cried sorrowfully. "With such a hell in your heart and your head, how can you? No, that's just what you are going away for, to join them... if not, you will kill yourself, you can't endure it!"

"There is a strength to endure everything," Ivan said with a cold smile.
-Fyodor M. Dostoevsky, The Karamazov Brothers.

Talvez a grande maioria das pessoas estejam vivendo uma Estação diferente. Um Inverno prolongado em seus corações.

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