Thursday 1 March 2012

Um Dia Qualquer

Foram apenas duas horas e trinta minutos de sono. Ele acorda inúmeras vezes, vira para o lado e segura de forma desajeitada o celular, para confirmar as horas. Faltam 4 minutos para o despertador disparar o alarme. Ele decide desliga-lo antes e se levantar. Mais um dia de trabalho o aguarda.

Londres, UK. O país ainda sofre os efeitos da crise internacional. Pessoas demais, empregos de menos. Com a abertura do país para a entrada de estrangeiros do Leste Europeu, a situação apenas se agravou. O preço das Universidades aumentou consideravelmente. Sem bons trabalhos e agora, com a possibilidade de estudar ainda menor, uma questão volta a assombra-lo. Por que continuar?

Lentamente, ele se levanta da cama barata comprada há poucos meses e já com algumas molas arruínadas. Procura pelas meias e em seguida pelo par de tênnis. Por fim, veste um jumper extra, seu casaco pesado e sua boina. Coloca algumas outras peças de roupa na mochila (para serem usadas na academia) e sua escova de dentes.

Na cozinha, ele coloca uma caneca de leite desnatado que fora comprado no dia anterior com um pouco de café solúvel no microwave. Dois minutos bastam para seu café da manhã estar pronto. Assim que termina de beber, ele pega as chaves, carteira, mochila e seu Oyster, e desce as escadas da Dover House em direção a estação de Brixton. Ainda não são sete da manhã.

Pela manhã, ele pensa em desistir. Está cansado e com frio. Não tem dormido mais do que quatro horas por noite há muitas semanas. Ele também pensa no seu deus. Haveria algum propósito em ter fé e continuar agindo da mesma forma indisciplinada, dos últimos 3 anos? Não é a primeira e nem a última vez que ele pensará sobre isso.

O dia de trabalho não é tão desagradável. Os colegas de trabalho, Ingleses da cidade de Newcastle e Sunderland, o tratam com respeito. Sua função é distribuir e instalar diferentes tipos de cabos elétricos em um prédio em construção. Um fututo alojamento para estudantes universitários no Norte de Londres. Ainda não há janelas ou paredes externas, o que permite que o vento gelado do inverno o atormente durante o dia. Mas em alguns dos quartos, há telas de proteção que impedem a entrada do vento e também da luz. São nesses lugares onde ele se sente melhor. Sozinho, na escuridão. Perdido em pensamentos.

No fim do dia, um convite da parte dos seus colegas de trabalho. Jantar em um "Pub" próximo. A conta vai ser paga pelo patrão, anuncia um deles. Ele decide ir.

The Twelve Pins. Um tradicional pub Irlandês. Comida caseira e uma variedade razoável de cervejas. Diversos telões de tv transmitem diferentes partidas de futebol. A maioria dos que ali estão no momento, parecem ser ingleses que acabaram de sair dos seus trabalhos. O chefe se chama Carl. Ele tem 37 anos, casado, dois filhos. Ele faz questão de pagar uma "Brown Ale" produzida na sua cidade natal e que leva o mesmo nome: Newcastle.

No início eles não encontram um lugar para sentarem. O Pub está realmente cheio. Até que uma das waitress, os convida para sentar em uma das poucas mesas localizadas no fundo do Pub. Eles começam a beber e conversar. No início falam de futebol. Parece que os homens ingleses, principalmente os que trabalham na área de construção civil, só sabem falar de futebol. Mas quando estão na terceira rodada de bebidas, eles se abrem mais. O patrão começa a perguntar sobre sua vida e ele comenta de suas viagens. Com isso, passa a se tornar o centro das atenções da mesa. Cada um com seu celular nas mãos, passam a mostrar as fotos de familiares, viagens, etc.

Ele passa a perceber que aquele momento é exatamente aquilo que ele procurava quando tanto desejava sair do Brasil: Dividir experiências com outras pessoas ao redor do mundo. Começam a falar de passado e futuro, experiências e planos. Terminam a quinta rodada de bebidas e decidem ir embora. Ele se despede, agradecendo o convite, o jantar e a conversa. Segue para a estação de trem mas desiste de ir para casa pelo meio mais rápido. Ele vai caminhando. Pensando em tudo o que falou e ouviu, ele decide que ainda vale a pena ficar ainda um pouco mais na cidade. Ansioso para pisar na Estrada. Mas feliz por não mais estar sonhando com uma vida diferente. Ele está agora vivendo seu sonho.

2 comments:

  1. Glauco...
    sonhe alto... cada vez mais e mais.
    Acredite! Vc vai realizar um por um! Vc merece!
    Abraços,

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  2. Bom saber como vc passa seus dias, querido.

    Questionamentos de "vale a pena?" perseguem a gente em qualquer lugar do mundo, mas quando estamos fora sempre acreditamos que ao voltar será tudo diferente. Bulshit.
    Quem tem certeza?

    Não é uma questão geográfica, é interna. E vc está no caminho certo.

    Um bjo

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