Wednesday 14 March 2012

Entre Sonhos

Não há estrelas no céu quando o vejo. Parece fazer tanto tempo desde nossa última aventura juntos. Não sei bem onde estou. Além dos muitos barcos ancorados em diversos piers que me fazem lembrar de Barcelona, não há um sentimento de familiaridade com o local. Ele se aproxima de mim, mas não muito. - Você esta atrasado! Elas estão nos esperando para almoçar e já estamos quase na hora do jantar!

Não escuto sua voz. Nem vejo o brilho dos seus olhos. Mas entendo o que me diz. Então, em meio as poucas luzes, começo a segui-lo em direção ao balcão de um velho bar, a beira da praia. Percebo naquele momento que há mais pessoas no local. Indo e vindo. Conversando entre elas, agitadas pelo clima de festa que esta estranha noite parece trazer mas que tão dificilmente conseguirá me contagiar.

São duas lindas meninas a nos esperar. Não parecem tão aborrecidas assim pelo meu atraso. Na verdade, são puro sorriso e excitação. Rapidamente se apresentam mas eu não consigo escutar seus nomes. Uma delas, a mais nova, eu já conhecia de outros carnavais. O que ela faz aqui, eu me pergunto. E quem é levado cativo em seu olhar sou eu. Logo em seguida, percebo que ele fala comigo: - Essa já é sua, filho.

Ela larga displiscentemente um copo com algum drink em cima do balcão, vem até mim em poucos passos, de forma sensual e me envolve com seus braços. Poderia ser ela, uma outra pessoa? Por que então, cada lembrança parece me envolver mais intensamente que seus braços? Eu espero que não seja realmente ela. Que seja apenas minha mente exausta a me confundir, fico a rogar. E busco no corpo dela alguma confirmação.

Silêncio. Quero ouvir algo dela. Então percebo que não preciso de respostas. Olho casualmente para o outro casal. Eu tento algum contato pelo olhar com ele. Nada. Ele parece ocupado demais com a outra menina. - Pai! Eu chamo. Ele dirige o olhar lentamente até mim mas não diz uma só palavra. Mesmo uma que eu não pudesse ouvir. Eu digo: - Estou indo agora. Eu olho para ela e sussurro em seu ouvido: - Você fica aqui com eles, tudo bem? Ele me responde apenas com um olhar enfurecido.

Acordo. Há lágrimas em meu rosto. Me sinto desorientado e procurando entender onde eu estou. Distante dos únicos que talvez se importem realmente comigo. Carregando muito mais culpas do que quando cheguei. Sentindo meu coração completamente esmagado contra meu peito. Minha respiração parece estar falhando. Me concentro por um momento, tal como se fosse necessário lembrar de como executar algo tão simples. Me acalmo. Me levanto. Vou mais um dia, trabalhar.

1 comment:

  1. Devidamente partilhado no Face (apesar dos pesares).

    Belo texto

    Abraços do amigo

    ReplyDelete