Saturday 7 January 2012

As Sombras de um Novo Ano

Ele busca pelas palavras mas não as encontra. A fina chuva, porém, o encontra facilmente. Ele olha para seus calçados e lembra que um dia eles já foram a prova d'água. Eles já atravessaram florestas no norte e desertos no sul. Hoje, eles já estão bem gastos. E seus pés já estão molhados antes que ele alcance uma cobertura. Ele continua caminhando calmamente. Após alguns minutos, ele para em frente a estação de St. James Park e então, lembranças também o alcançam.

Ele desiste de pegar um trem na estação e segue em direção ao parque. Olha para os dois lados da avenida antes de atravessar e não percebe carro algum. Ele sorri para si mesmo ao chegar na entrada do St. James. Em sua cidade natal, entrar em um local como esse tarde da noite seria um convite ao desastre. Aqui, ele não encontra uma só alma por perto. Ele observa as sombras projetadas e os galhos retorcidos das altas árvores. Até alcançar uma encruzilhada.

St. James Park em um dia de verão.


Apesar da má iluminação do local, ele se sente seguro. Forçando um pouco a vista, em meio a chuva, ele percebe pequenas setas apontando para diversas direções: O Palácio de Buckingham no Oeste, The Mall e o St. James Palace no Norte, the House Guard no Leste e o Birdcage Walk no Sul. Ele se lembra dos pelicanos e dos outros muitos pássaros que costumam viver naquele local, das fotos que já tirou durante o dia e do quanto ele sentia falta da sensação de estar só.

O St. James Park é o mais antigo dos Parques Reais. E o favorito dele também. A última vez em que ele esteve ali foi no Outono. Quando as muitas folhas amareladas e vermelhas transformavam o local em uma obra de arte encantadora. Ele amava ver os pequenos esquilos. Audaciosos, vinham até as mãos daqueles que ofereciam pequenos pedaços de pão ou biscoito. Então, ele percebe que além de completamente molhado, também está sentindo fome. E se pergunta onde poderá encontrar o mercado aberto mais próximo.

Os Esquilinhos daqui são corajosos.


Ele começa a deixar o parque e as lembranças para trás. Mas no fundo, não gostaria de partir. Não há ninguém esperando por ele. Não há um local onde ele possa chamar verdadeiramente de lar. Se não estivesse se sentindo tão faminto, é possível que ele se decidisse por permanecer um pouco mais. Então, percebe que há alguém se aproximando. Um homem, vestindo um kilt e carregando uma bagpipe. Ele já viu pessoas assim tocando em troca de algumas moedas, bem próximo do parque, em Westminster.

Ele olha para trás e percebe o quanto mudou. O ano se iniciou há apenas poucos dias e ele não consegue perceber mudança alguma em sua vida. Nem novos planos, nem novos sonhos. O novo ano parece ser como uma sombra daquele que finalmente chegou ao seu fim. É como se a passagem de tempo se congelasse e ele estivesse na mesma encruzilhada de anos atrás, mas com setas apontados para rumos diferentes. No fim, ele prefereria permanecer naquele parque. Mas sua fome o obriga a seguir em frente.

1 comment:

  1. Posso considerar que tenho 12 anos por adorar ilustraçoes?! Continuo achando o último parágrafo genial.

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